Em fala marcada por autoglorificação, ataques a Biden, imigração e políticas ambientais, presidente critica a ONU e endurece tom contra Irã, Hamas e China
Na abertura da Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (23/9), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, transformou o púlpito internacional em um palco de celebração pessoal e de críticas afiadas. Em um discurso longo, ele exaltou o que chamou de “era dourada da América”, atacou o governo de Joe Biden e responsabilizou a ONU por não cumprir o papel de resolver as crises globais. “Qual é o propósito das Nações Unidas?”, questionou, afirmando que o organismo “não está nem perto de resolver algo” e precisa mudar o que descreveu como “abordagem falha do passado”.
Trump abriu a fala ironizando o fato de o teleprompter e a escada rolante do prédio da ONU não estarem funcionando. Disse que não se importava em discursar sem apoio técnico, arrancando risos, mas logo mudou de tom ao afirmar que os EUA estão vivendo o melhor momento da história. “Sob a minha liderança, os custos da gasolina, da inflação e dos aluguéis caíram. A única coisa que está em alta é o mercado de ações”, declarou, acrescentando que os salários dos trabalhadores “crescem mais do que em qualquer outro momento dos últimos 60 anos”.
O presidente destacou cortes fiscais que, segundo ele, tornam os Estados Unidos o melhor país para negócios, pois segundo ele, “construiu a melhor economia da história”. Mas a retórica de autoglorificação veio acompanhada de duras críticas ao antecessor. Trump acusou o governo Biden de ter deixado o país quatro anos sem leis e de ter adotado uma “política ridícula de fronteiras abertas” que permitiu a entrada de criminosos, traficantes e pessoas vindas de instituições psiquiátricas. “Nossa mensagem é simples: se você entrar ilegalmente em nosso país, será preso ou voltará para onde veio”, reforçou.
As guerras e a política externa também ocuparam espaço central no discurso. Trump disse ter encerrado sete conflitos prolongados, alguns que duravam mais de três décadas, e acusou a ONU de jamais ter se importado em mediar essas crises e disse que algumas pessoas acreditam que ele deveria ganhar o Prêmio Nobel da Paz. “O que me importa não é ganhar prêmios, é salvar vidas. E salvamos milhões com o encerramento dessas guerras”, afirmou.
Ao falar da guerra na Ucrânia, voltou a defender que poderia ter encerrado o conflito mais rápido pela sua relação com Vladimir Putin e disse que a situação não está favorável para Moscou. “Caso a Rússia não esteja pronta para uma negociação, então os Estados Unidos está pronto para uma rodada de tarifas robustas”, disse.
O Oriente Médio também foi alvo de declarações incisivas. Sobre Gaza, disse que o Hamas não aceita propostas de cessar-fogo e exigiu a libertação imediata dos reféns. Rejeitou reconhecer o estado Palestino por considerar que isso daria “continuidade às atrocidades”. Em relação ao Irã, acusou o país de ser “o maior financiador do terrorismo” e afirmou ter enviado carta ao líder iraniano oferecendo amizade em troca da suspensão do programa nuclear. “Os Estados Unidos têm as melhores armas do mundo, mas não gostaríamos de usá-las”, disse.
Entre críticas à China, à agenda ambiental e às políticas migratórias, Trump chamou a mudança climática de “falácia” e acusou ambientalistas de destruírem economias nacionais. Para ele, medidas verdes beneficiam apenas países poluentes da Ásia, enquanto prejudicam os EUA e a Europa. “Temos hoje o ar mais limpo da história. O que suja vem de fora, e ambientalistas se recusam a aceitar isso”, declarou, afirmando que a chamada pegada de carbono seria uma “palhaçada criada por pessoas com más intenções”.
O tom duro também se estendeu à criminalidade e ao narcotráfico. Trump prometeu combater cartéis de drogas, gangues internacionais e organizações terroristas, citando nominalmente Nicolás Maduro como líder de uma rede criminosa. “Vamos acabar com a existência de vocês. Vocês estão destruindo a população”, disse, referindo-se às embarcações que levam drogas como o fentanil para os EUA.
Ao longo do discurso, Trump intercalou ironias sobre a própria ONU com a reafirmação de uma política nacionalista e soberanista. Criticou a instituição por “fundar ataques contra países ocidentais” e afirmou que cada nação deve ter o direito de proteger sua cultura, idioma e religião contra a imigração em massa. “Estamos reassegurando que a América pertence ao povo americano e, para isso, vamos lutar”, afirmou.
Tribuna Livre, com informações da Agence France Presse