Para os Estados Unidos, os 32 membros da organização têm de destinar 5% do PIB para segurança e defesa em caso de ameaça, como em situação de guerra. A Espanha reagiu, informando não ter condições. Foi voz isolada
Em meio à apreensão sobre a confirmação do cessar-fogo entre Israel e Irã, o presidente dos Estados Unidos, Donaldo Trump, pressionou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) a cumprir o acordo de repasse de até 5% do PIB de cada um dos 32 estados-membros para segurança e defesa da América do Norte e da Europa. Ele criticou duramente o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, que reagiu à pressão, informando sobre a dificuldade de atender ao apelo.
Antes de chegar a Haia, na Holanda, para o encontro da Otan, o norte-americano reiterou a necessidade de cumprimento do artigo 5 do Tratado de Washington, que determina que todos os estados-membros da entidade cooperem em caso de ataque. Do contrário, Trump ameaçou não dar assistência aqueles que não contribuírem, a quem chamou de “maus pagadores”.
Sánchez argumentou que ir além de 2,1% nos repasse, obrigaria o governo espanhol a aumentar impostos e sacrificar seus gastos sociais. Segundo ele, será feito um esforço para atender, mas também para buscar a flexibilização por Porém, Trump reagiu. Rutte tem dito desde então à imprensa que não há cláusulas de exceção, mas fontes do governo espanhol insistem em que Madri vai ratificar a posição comum, desde que se respeite esta flexibilidade. No ano passado, os Estados Unidos aportaram 62% do total de gastos para o setor de segurança e defesa, agora ele cobra o retorno.
De acordo com dados da própria Otan, o gasto médio com a Defesa entre os membros europeus e o Canadá foi de 2%, a meta dominante até agora. A meta de 5% em 2035 se constitui de duas etapas. Na primeira fase, 3,5% para gastos militares em sentido estrito, que se soma 1,5% em investimentos em áreas como cibersegurança, infraestruturas e proteção de fronteiras, úteis tanto para fins civis quanto militares.
Os gastos com defesa têm sido um assunto espinhoso para os membros da OTAN e uma fonte persistente de irritação para o presidente dos EUA, Donald Trump, que exigiu que os aliados dobrassem suas metas de gastos de 2% para 4% do PIB em 2018. País, como Polônia, Estônia, EUA, Letônia e Grécia conseguiram atingir a meta, mas Canadá, Espanha e Itália, ficaram abaixo do limite de contribuição.
Elogios
Após anunciar um cessar-fogo entre Israel e Irã, o republicano chegou a Haia a tempo de participar de um banquete oferecido pelo rei holandês Willem-Alexander aos 32 líderes da Aliança Atlântica. Antes de chegar à reunião, Trump publicou em sua plataforma, Truth Social, a mensagem com elogios que recebeu do secretário-geral da Otan, Mark Rutte.
“Parabéns e obrigado por sua ação decisiva no Irã, que foi realmente extraordinária (…) Agora você está voando rumo a outro grande êxito em Haia esta noite. Não foi fácil, mas conseguimos que todos consentissem com os 5%!”, escreveu Rutte a Trump, em uma mensagem cuja autenticidade foi confirmada para a AFP. “A Europa pagará alto, como deve fazer, e esta vitória será sua”, acrescentou Rutte na mensagem a Trump.
Ao invés de elogios, o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, preferiu indicar que a posição da Otan é para preservar o bloco como um todo. “Não estamos fazendo isso, como alguns sugerem, para agradar os Estados Unidos e seu presidente”, afirmou. “A Rússia, mais que nenhum outro país, ameaça ativa e agressivamente a segurança” da Europa, destacou.
Ucrânia
Há uma expectativa de encontro hoje entre Trump e o presidente da nUcrânia, Vlodymyr Zelensky, em uma reunião bilateral. Os líderes europeus e o próprio Rutte deram espaço a Zelensky em um evento paralelo sobre a indústria da Defesa. “Continuaremos dando pleno apoio à Ucrânia e pressionando a Rússia. O 18º pacote de sanções está a caminho”, disse o presidente do Conselho Europeu, António Costa.
“A Europa da Defesa enfim acordou”, comemorou a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, fazendo um balanço da recente criação de dois mecanismos que devem mobilizar 800 bilhões de euros (cerca ade R$ 5 trilhões, na cotação atual) nos próximos anos em investimentos e créditos destinados ao setor. “Aqui você está entre amigos”, disse-lhe von der Leyen dirigindo-se a Zelensky.
Tribuna Livre, com informações da Agence France Presse.