EUA impõem medidas punitivas contra 16 funcionários do regime venezuelano. Estudiosos veem mensagem sobre consequências por apoiar governo “ilegitímo” e “violador dos direitos humanos”. Premiê espanhol se reúne com líder opositor em Madri
O governo dos Estados Unidos anunciou a imposição de medidas punitivas contra 16 funcionários venezuelanos, incluindo a presidente da Suprema Corte da Venezuela, por “fraude eleitoral”. Em comunicado, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmou que a Casa Branca interveio para que o presidente Nicolás Maduro e seus representantes sejam responsabilizados por “obstruir” as eleições presidenciais de 28 de julho e “abusar dos direitos humanos”. “Em vez de respeitar a vontade do povo (…) eles se atribuíram falsamente a vitória, enquanto reprimiam e intimidavam a oposição democrática, em uma tentativa ilegítima de se manter no poder pela força”, adverte a nota. Com a decisão desta quinta-feira (12/9), os EUA sancionaram mais de 140 pessoas e 100 entidades venezuelanas.
Entre os novos sancionados, estão: Caryslia Beatriz Rodríguez Rodríguez, presidente do Tribunal Supremo de Justiça; Rosalba Gil Pacheco, reitora do Conselho Nacional Eleitoral; Domingo Antonio Hernández Lárez, o número três das Forças Armadas e responsável pelas operações militares; e Pedro José Infante Aparicio, primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional. Também em nota, a chancelaria da Venezuela afirmou que “rejeita nos termos mais enérgicos, o novo crime de agressão cometido pelo governo dos Estados Unidos da América contra a Venezuela, ao impor medidas coercitivas unilaterais”.
Mais cedo, o líder opositor venezuelano, Edmundo González Urrutia, foi recebido pelo primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, em Madri, depois da concessão de asilo político de Madri ao ex-diplomata, alvo de mandado de prisão por parte do regime de Maduro. “A Espanha continua trabalhando a favor da democracia, do diálogo e dos direitos fundamentais do povo irmão da Venezuela”, escreveu o premiê de esquerda, no dia em que 40 países, além da União Europeia (UE), pediram na Organização das Nações Unidas (ONU) que Caracas publique “imediatamente” o resultado detalhado das eleições venezuelanas e permita uma “verificação imparcial”.
Em nota à imprensa, Edmundo González classificou o encontro com Sánchez como “grato e produtivo”. “Falamos da grave situação enfrentada pela Venezuela e da necessidade de trabalhar conjuntamente por uma transição à democracia”, explicou. O opositor agradeceu a “todas as forças políticas espanholas que lutam ativamente pelo reconhecimento da vontade soberana do povo na Venezuela”, expressada nas mesas de votação, em 28 de julho. “Minha gratidão ao Congresso dos Deputados pelo reconhecimento de minha vitória nas eleições venezuelanas passadas”, acrescentou.
Ainda segundo González, o seu compromisso com o mandato recebido de parte da população da Venezuela é “irrenunciável”. “A abordagem da luta que María Corina Machado e eu temos conduzido se mantém inquebrantável. A luta é até o fim, quando todas as nossas famílias poderão se reunir em solo venezuelano”, avisou.
Advogado e professor de direito em Barquisimeto, o venezuelano Alfonso Ochoa — hoje residente em Orlando (EUA) — disse acreditar que os EUA enviaram um recado de que Maduro viola, de forma flagrante, os direitos humanos. “É um forte e claro sinal para esses indivíduos, que deverão pensar sobre o que fazer. Apesar de estarem rodeadas de dinheiro, essas pessoas acabarão fugindo para os Estados Unidos. Nesse sentido, acho que os EUA deveriam ser mais firmes e revogar as licenças outorgadas para a venda de petróleo venezuelano. Com esse dinheiro, financiam equipes para amedrontar e cometer as violações”, afirmou ao Correio.
Jose Vicente Carrasquero Aumaitre, professor de ciência política da Universidad Central de Venezuela (UCV), reconhece que as sanções eram aguardadas há pelo menos duas semanas. “É uma mensagem direcionada aos funcionários do regime de Nicolás Maduro sobre as consequências que enfrentam por apoiar um governo ilegítimo e suas ações”, disse à reportagem. Ele lembrou que o regime de Maduro comete violações contra a democracia e contra a população. “As sanções têm mais efeitos quando acompanhadas por outros países.”
Aumaitre destacou a importância simbólica da reunião entre Sánchez e González. “Vejo um reconhecimento, por parte do premiê espanhol, da importância de Edmundo González dentro da Venezuela e estrutura política venezuelana”, comentou. Ele disse esperar que o chefe de governo da Espanha ateste o direito de Edmundo de ascender ao poder em 10 de janeiro de 2025. “Tomara que Pedro Sánchez se destaque como um líder que pressione (Maduro) para que a vontade dos venezuelanos seja cumprida”, concluiu o professor da UCV.
Tribuna Livre, com informações da AFP