22/11/2025

Após encontro com Xi Jinping, Lula se alia à China na guerra e na economia

 Presidente diz que ninguém vai proibir o Brasil de aprimorar o
relacionamento com o gigante asiático. Em declaração conjunta, os dois países
pregam diálogo e negociação para o fim do conflito entre Rússia e Ucrânia


(crédito: Ken Ishii / Pool / AFP)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva traz na bagagem da
viagem à China, encerrada ontem, dezenas de acordos de cooperação, em especial
no campo do agronegócio, além de diversos contratos celebrados entre empresas
brasileiras e chinesas. O petista também deixou claro para o presidente da
nação asiática, Xi Jinping, com quem se reuniu nessa sexta-feira, que pretende
elevar o patamar da parceria estratégica entre os dois países, “ampliar
fluxos de comércio e, com a China, equilibrar a geopolítica mundial”.
“É com a China que nós temos tentado equilibrar a geopolítica mundial,
discutindo os temas mais importantes”, reiterou.

Um dos pontos da visita de Lula é a intenção do Brasil de
se tornar um mediador na guerra entre a Rússia e a Ucrânia. A declaração
conjunta dos chefes de Estado, divulgada após o encontro, aponta para um apoio
mútuo dos dois países como atores na busca por uma solução de paz para o
conflito.

“As partes afirmam que o diálogo e a negociação são
a única saída viável para a crise na Ucrânia e que todos os esforços
conducentes à solução pacífica da crise devem ser encorajados e apoiados”,
enfatizaram, no documento.

Já na viagem que fez aos Estados Unidos, em fevereiro,
Lula assinou uma declaração conjunta com o presidente americano, Joe Biden, em
que criticava a invasão da Rússia ao território da Ucrânia, um dos objetivos da
diplomacia americana, mas o desejo brasileiro de reconhecimento do país como
negociador do conflito não foi atendido.

Na declaração conjunta de ontem, negociada com os
chineses pelo assessor especial da Presidência, Celso Amorim, o Brasil
reconhece publicamente que “recebeu positivamente ” o plano de paz de
Beijing para o conflito, enquanto a China também atestou os esforços do Brasil
de encontrar uma solução para a guerra.

O apoio mútuo é visto com cautela pelos aliados
ocidentais da Ucrânia, liderados pelos Estados Unidos. Eles temem que um
alinhamento dos emergentes possa aproximar esses países da Rússia, que passa
por um processo de pressão, com o isolamento diplomático e econômico.

Os documentos da inteligência dos EUA, vazados nesta
semana em redes sociais, reforçam essa reserva americana ao apontar que a
Rússia estaria vendo com simpatia os esforços do Brasil em construir um grupo
de países que seria “supostamente imparcial” para negociar uma
solução do conflito.

Dólar

A visita de Lula foi marcada por diversas declarações
fortes, como a sugestão do presidente de se abandonar o dólar como moeda de
troca nas relações comerciais entre os dois países. “Nós precisamos ter
uma moeda que transforme os países numa situação um pouco mais tranquila,
porque hoje um país precisa correr atrás de dólar para poder exportar, quando
ele poderia exportar em sua própria moeda, e os bancos centrais certamente
poderiam cuidar disso”, ressaltou, durante a posse da ex-presidente Dilma
Rousseff no comando do Novo Banco de Desenvolvimento, instituição do Brics
(grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

A declaração, vista como uma ameaça à hegemonia
americana, foi depois ponderada pelo presidente. Ele disse que moeda única é um
processo difícil e pediu para que Dilma tenha calma com a sugestão estando à
frente do banco dos Brics. “É necessário ter paciência, mas por que um
banco como o dos Brics não pode ter uma moeda que possa financiar a relação
comercial entre Brasil e China, e entre os outros países dos Brics? É difícil,
porque tem gente mal-acostumada, e todo mundo depende de uma única moeda”,
frisou.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também se
apressou em negar um possível afastamento em relação aos Estados Unidos. Para
ele, o Brasil é “grande demais para escolher parceiro”. Destacou que
o interesse do governo é estabelecer as melhores relações tanto com os Estados
Unidos quanto com a União Europeia e a China.

Em uma reafirmação da independência brasileira e do não
alinhamento na política externa, Lula disse que “ninguém vai proibir que o
Brasil aprimore sua relação com a China”. A fala, no encontro com Xi
Jinping, foi em resposta às críticas sobre a visita que fez à Huawei, empresa
banida pelos americanos sob a alegação de espionagem.

Acordos bilaterais vão de satélites a veículos elétricos

Conforme balanço do Itamaraty, na viagem do presidente
Lula à China foram fechados 20 acordos entre o governo e empresas estatais
brasileiras e instituições chinesas. Já no setor privado, houve a celebração de
mais de 20 contratos entre companhias dos dois países. Os acordos vão da
retomada da cooperação para a construção de satélites até a compra de caminhões
elétricos.

A construção de satélites ocorre com a renovação de um
acordo de cooperação, que prevê desenvolvimento, fabricação, lançamento e
operação conjunta do Satélite Sino Brasileiro de Recursos Terrestres, o
CBERS-6. O novo equipamento, sexto da série, contará com uma tecnologia chamada
Radar de Abertura Sintética (SAR), que vai permitir o monitoramento da Amazônia
em qualquer condição climática.

“É um desenvolvimento comum de tecnologia. Com os
chineses, desenvolveremos uma nova tecnologia de sensoriamento remoto, para
além dos sensores óticos, com imagens mais precisas das situações climáticas,
sobretudo na Amazônia, que permitirá ver através das nuvens”, disse a
ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.

Já no setor privado, entre os contratos firmados está a
aquisição de 280 caminhões elétricos da chinesa JAC Motors pela brasileira
Seara e a compra de cinco navios do maior estaleiro do mundo, o chinês Cosco,
pela empresa de celulose Suzano.

Do lado brasileiro, o grande vitorioso de vendas foi o
agronegócio, que conseguiu levantar embargos e facilitar as condições para a
exportação por meio de um convênio que prevê a elaboração de estudos para a
adoção de um certificado sanitário digital, com o intuito de simplificar a
exportação de proteína animal para o mercado chinês.

Também foi celebrado um memorando de entendimento entre o
Ministério da Fazenda e o governo chinês para a promoção da cooperação e da
colaboração de projetos de interesse mútuo, como parcerias público-privadas
(PPPs), infraestrutura e captação de recursos.

Clima

Na declaração conjunta, divulgada após o encontro de Lula
com o presidente chinês Xi Jinping, consta um comprometimento com as mudanças
climáticas. Os dois países lembram que nações desenvolvidas se comprometeram,
no Acordo de Paris, a abastecer um fundo climático que deveria chegar a US$ 100
bilhões por ano, meta não alcançada desde 2009.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina
Silva, disse que a China será uma importante parceira para o reflorestamento no
Brasil. Por meio de acordos tecnológicos, o governo pretende aumentar a
rastreabilidade florestal no país. “Queremos trabalhar com
rastreabilidade, e o Brasil tem um potencial muito grande para ser, ao mesmo
tempo, uma potência agrícola e uma potência florestal”, frisou.

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