A jornada de abril do MST é oxigênio para manter acesa a chama
da ideologia que estimula movimentos como esses. Uma ideologia de intelectuais
que usa desempregados como massa de manobra
Alexandre Garcia
(crédito: Reprodução/MST/Clarice Lissovsky)
O “general” do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e do Movimento dos Sem-Terra (MST, João Pedro Stedile, acaba de ameaçar
os proprietários rurais com um abril cheio de invasões, numa Jornada Nacional
em Defesa da Reforma Agrária para punir latifúndios improdutivos. Anunciou que
vão plantar árvores para mostrar a defesa do meio ambiente. O irônico é que
invadiram, este ano, fazendas de eucaliptos e derrubaram as árvores de onde sai
celulose para fazer papel — e é inesquecível aquela imagem de invasores tratorando
laranjais de onde sai o suco que nos põe em liderança no mundo.
Mais irônico é falar em latifúndios improdutivos, quando
todas as terras produtivas já estão ocupadas — e interessante que a tal reforma
agrária aparece depois que o governo de Jair Bolsonaro entregou mais de 400 mil
títulos de terra em quatro anos, o dobro do que Lula e Dilma entregaram de 2003
a 2015.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, diz que
invasões não serão toleradas, acompanhando o governador de seu estado, Mato
Grosso. Outros governadores se manifestaram no mesmo sentido. A polícia de São
Paulo há pouco prendeu José Rainha Júnior por extorsão, o que quer dizer
“paga ou invadimos” ou “paga que saímos”.
Estímulo
Deixando de lado essa intenção bandida, a tal jornada de
abril é oxigênio para manter acesa a chama da ideologia que estimula movimentos
como esses. Uma ideologia de intelectuais que usa desempregados como massa de
manobra, enquanto os faz acreditar numa utópica reforma agrária na ponta do
arco-íris. Os da reforma real suaram anos para receber seus títulos de terra.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra) registrou apenas 16 das invasões que ocorreram nesses 100 dias de
governo, mas, pelas redes sociais, se sabe que elas pipocam por todo o país. O
agro, que já tem inquietações suficientes com o clima, o mercado, a insegurança
jurídica na área tributária, agora tem mais essa, depois da paz fundiária dos
anos Bolsonaro.
Acresce que tem ainda pela frente o Supremo Tribunal
Federal (STF) com o tal marco temporal de terras indígenas, em que seria melhor
ouvir um professor de português para dizer o que significa um verbo no presente
do indicativo.
Não custa repetir que o direito de propriedade é cláusula
pétrea na Constituição, inscrito na mesma linha do direito à vida. Só que, para
o cúmulo da insegurança jurídica, nem cláusula pétrea tem sido respeitada pela
Suprema Corte que, em lugar de aplicar a Constituição, a tem modificado, mesmo
sem poderes para isso.
Diante do silêncio do governo, com a única exceção de
Fávaro, a ameaça de Stédile junta-se a tantas outras ameaças que tornam cada
vez mais difícil viver num país com tantas inseguranças.