Parceria do governo com voluntárias acolhidas no espaço promove inclusão, aprendizado e certificação gratuita para a comunidade
“Eu já vinha para o CEU das Artes fazer zumba, para movimentar o corpo. Agora venho também para exercitar a mente”, conta Josemari Santos, de 57 anos. Moradora do Setor M Norte de Ceilândia, ela é uma das alunas mais assíduas do curso básico gratuito de espanhol oferecido no Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU das Artes) da QNM 28, em Ceilândia Norte.
Desde que soube das aulas, ela foi uma das primeiras a se inscrever — e não perdeu nenhuma. “Nunca imaginei que fosse aprender outra língua nessa fase da vida. E ainda de graça. Já sonho até em conhecer outro país”, diz, animada.
O curso, oferecido desde o início do ano pela Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF), é resultado de uma parceria entre a gerência do CEU das Artes e duas professoras venezuelanas, acolhidas pelo equipamento público e hoje voluntárias na formação de mais de 30 alunos, divididos em duas turmas. As aulas são dadas nas manhãs de quarta-feira e sábado, em uma sala reformada e estruturada para garantir mais conforto e qualidade no aprendizado. Ao final de cada módulo, os alunos recebem certificados de participação.
Quem também se encontrou com o novo idioma no CEU das Artes foi a técnica bancária Clarice Melo, 41 anos, moradora de Águas Claras. Ela descobriu o curso quando levava a filha para as aulas de luta no local. Afastada do trabalho por causa de uma doença que lhe causa dores crônicas, Clarice viu nas aulas de espanhol uma maneira de cuidar da mente e afastar a depressão.
“Estou encantada. As professoras, as minhas colegas de turma e tudo que tenho aprendido me fazem muito bem. É mais do que aprender um idioma. É enxergar o mundo de uma nova forma”, afirma.
Retribuição que ensina
As responsáveis pelas aulas de espanhol também têm uma trajetória de transformação. Marysabel Atopo e Lizmary Venz chegaram ao Brasil como refugiadas da Venezuela e encontraram no CEU das Artes um espaço de acolhimento, troca e recomeço. Ambas começaram frequentando as aulas de zumba do local e decidiram se unir para oferecer algo de volta à comunidade que as recebeu.
“Oferecer essas aulas é uma forma de contribuir com a comunidade e de promover oportunidades”, relata Marysabel. Para ela, o idioma abre portas e fortalece a autoestima. “Mudar a alma das pessoas. É isso que a língua faz. Profissionalmente, cognitivamente, emocionalmente. E o mais bonito é que, ao final, nossos alunos também vão poder ajudar outras pessoas com o que aprenderam.”
Já Lizmary reforça que as aulas também promovem uma rica troca cultural. “Enquanto ensino espanhol, também aprendo com os alunos. Conheço mais sobre o Brasil, a cultura e os costumes. Cada aula se transforma em um espaço de aprendizado mútuo, e isso é muito valioso.”
Muito além do idioma
Gerido pela Sejus, o CEU das Artes da QNM 28 oferece uma ampla programação gratuita voltada à cultura, ao esporte e à cidadania, com atividades como ginástica, jiu-jítsu, karatê, futebol, balé, kango jump, forró, carimbó, vogue, break freestyle, entre outras. As inscrições são presenciais e abertas a toda a comunidade.
A secretária de Justiça e Cidadania do DF, Marcela Passamani, destaca a importância do CEU das Artes como um polo de transformação social. “Esse é um espaço de pertencimento, que fortalece vínculos e amplia horizontes. As aulas de espanhol mostram como a educação e a convivência comunitária podem impactar positivamente a vida das pessoas. Quando investimos em estruturas como o CEU, estamos investindo em dignidade, desenvolvimento e oportunidades reais para a população.”
Tribuna Livre, com informações da Sejus-DF