Mediação não move impérios, ensina a História
Fonte: Metrópoles – Por: Ricardo Noblat
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que
ontem reuniu-se com o chanceler russo Sergey Lavrov, o segundo homem mais
poderoso do seu país, insiste em dizer que o Brasil não arredou pé da posição
que adotou na Organização das Nações Unidas de condenar a Rússia por ter
invadido a Ucrânia.
Segundo Vieira, ele defendeu junto a Lavrov um
cessar-fogo imediato na Ucrânia e uma solução pacífica para o conflito. E
recordou as manifestações recentes de Lula a favor da formação de um grupo de
países para mediar as negociações entre a Rússia e a Ucrânia. “Tratamos de paz,
não de guerra”, pontuou Vieira.
Pode ter sido. Mas o ministro precisa combinar com Lula
para que ele não reforce a impressão de que o Brasil, sob o seu comando, começa
a abandonar a neutralidade que é a marca registrada de sua política externa.
Nos 4 anos de Bolsonaro, o Brasil alinhou-se incondicionalmente aos Estados
Unidos de Trump.
Agora, ao desalinhar-se dos Estados Unidos de Biden, não
tem porque alinhar-se ao outro lado. Quando Lula afirma que nem o presidente
Vladimir Putin toma a iniciativa de parar a guerra, nem o presidente Zelensky,
ele estabelece uma falsa equivalência. A Ucrânia é quem foi invadida, e é
legítimo que se defenda.
Lula é ingênuo – ou simula ser – ao imaginar que mediação
move os impérios. Nunca moveu. Impérios ganham ou perdem guerras. Ou na
impossibilidade de ganhá-las, negociam um cessar-fogo com seu oponente ou batem
em retirada. Foi assim no Vietnam. Na Coreia, nenhum dos lados se deu por
vencido até hoje.
A China tem um plano de 36 pontos para mediar a guerra na
Ucrânia e se ainda não o levou adiante é porque não conseguiu, ou porque a hora
de fazê-lo ainda não chegou. Que plano tem Lula? Que importância tem o Brasil
no cenário mundial para liderar um esforço de mediação? Se Lula tem algum
plano, esconde.
Os Estados Unidos recusam-se a credenciar Lula para
mediar qualquer coisa; valem-se da Ucrânia para enfraquecer a Rússia. É a
guerra terceirizada. A China recebeu Lula com toda pompa e circunstância, mas
também não o credenciou para ser mediador. Lula tenta obter da Rússia essa
credencial.
Falta no governo Lula quem se disponha a fazer o papel
que em 2007, em Santiago do Chile, durante a XVII Conferência Ibero-Americana
de chefes de Estado, fez o rei Juan Carlos 1º, da Espanha, ao irritar-se com o
presidente venezuelano Hugo Chávez que não parava de falar. A certa altura, o
rei gritou:
“¿Por qué no te callas?”
Lula tem uma saída para o imbróglio em que se meteu,
demasiadamente encantado com si mesmo, a pensar que só deve a eleição aos
próprios méritos: hoje ou amanhã, o governo enviará ao Congresso o plano de
gastos para os próximos anos. A agenda de assuntos internos poderá obrigá-lo a
mudar de assunto. A ver.