O país está enfrentando um agravamento do conflito envolvendo rebeldes tuaregues, grupos jihadistas islâmicos, o Exército, e até mesmo mercenários russos do grupo Wagner. No último domingo, grupos separatistas afirmaram ter tomado o controle de uma cidade no norte do país.
Nos últimos dias, ocorreram violentos conflitos no norte do Mali. No domingo (01/10), rebeldes tuaregues afirmaram ter tomado o controle da cidade de Bamba das mãos do exército do país. O grupo separatista alegou que 80 soldados foram mortos por tuaregues na região central do Mali.
O governo confirmou que uma base militar na área de Mopti foi alvo de um ataque na quinta-feira, mas não forneceu detalhes. O aumento da violência no Mali ocorre em um momento em que as forças de paz da ONU, presentes no país desde 2013, estão se retirando da região.
O ataque à cidade de Dioura na quinta-feira representa o ponto mais ao sul de conflito desde que os rebeldes tuaregues retomaram o conflito em agosto, após o colapso de um acordo de paz de 2015. Esse aumento da violência coincide com a escalada da atividade por parte de grupos militantes islâmicos, apesar da presença, desde dezembro de 2021, de mercenários russos do Grupo Wagner.
Anteriormente, o Exército já havia sido alvo de ataques em Bamba por jihadistas ligados à Al-Qaeda em setembro. O Exército relatou que os confrontos em Bamba começaram às 6h (horário local) do domingo, descrevendo-os como “intensos” e classificando os grupos envolvidos como “terroristas”, sem nomeá-los.
Uma aliança de grupos tuaregues, incluindo a Coordenação dos Movimentos Azawad (CMA), afirmou ter assumido o controle da área ao redor de Bamba, uma cidade situada na margem esquerda do rio Níger, entre as cidades de Timbuktu e Gao. Os rebeldes tuaregues, que buscam a independência do norte do Mali, se opõem ao controle do Exército sobre as bases anteriormente ocupadas pelas tropas da ONU que estão deixando a região.
Esses grupos tuaregues já foram aliados a extremistas islâmicos que tomaram o norte do Mali em 2012, levando à intervenção da França e posteriormente da ONU para evitar que avançassem em direção à capital, Bamako, no sul do país.
Os grupos tuaregues assinaram um acordo de paz com o governo em Argel, Argélia, em 2015, mas os jihadistas continuaram a realizar ataques a partir de suas bases no deserto.
Essa insurgência em curso foi uma das principais razões pelas quais os militares do Mali tomaram o poder em 2020, acusando o governo civil de não garantir a segurança do país. O governo militar prometeu acabar com os ataques insurgentes e pediu à França que retirasse suas tropas. Em seguida, o governo contratou mercenários do Grupo Wagner para auxiliar na segurança.
No entanto, a violência contra civis no Mali aumentou 38% neste ano, de acordo com o projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (Acled). A Acled atribuiu 33% dos ataques a um grupo ligado à Al-Qaeda, mas também responsabilizou os militares e o Grupo Wagner pelo aumento da violência, correspondendo a 29% dos ataques, à medida que se deslocam para áreas que têm estado em grande parte fora do controle do Estado por mais de uma década.
Segundo a Acled, essas operações frequentemente resultam em civis de várias comunidades sendo vítimas. Militares e mercenários do Wagner costumam alegar que as vítimas são apoiadoras de grupos adversários e rebeldes.
A Acled observa que o Grupo Wagner utiliza táticas extremamente violentas para instilar um medo “nunca antes visto no Mali”, incluindo “tortura, execuções sumárias, decapitações, expulsão de prisioneiros de aeronaves e armadilhas explosivas feitas com cadáveres”.
A entidade alerta que o ressurgimento da rebelião tuaregue e o crescente aumento da insurgência jihadista representam ameaças à estabilidade e segurança das áreas civis em todo o Mali.
A ONU está programada para concluir sua retirada do Mali até o final de dezembro.
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Tribuna Livre, com informações da BBC News