Presidente americano condicionou ajuda de US$ 20 bi ao sucesso do mandatário nas eleições do dia 26. Governo argentino diz que Tesouro dos EUA vai continuar a apoiar o peso
As declarações do presidente Donald Trump condicionando a ajuda de US$ 20 bilhões à Argentina ao sucesso de Javier Milei nas eleições de meio de mandato, marcada para o próximo dia 26, provocaram novas turbulências no mercado cambial.
“Se ele ganhar, continuaremos com ele; se não ganhar, estamos fora”, disse Trump a repórteres na terça-feira, acrescentando que os governos também pretendem discutir um possível acordo de livre comércio.
As taxas de juros de curto prazo em peso voltaram ao patamar de três dígitos, já que nem os Estados Unidos nem a Argentina intervieram no mercado cambial pelo segundo dia consecutivo de negociações. Os títulos argentinos caíram em toda a curva, revertendo ganhos anteriores.
Os títulos da dívida argentina com vencimento em 2035 caíram 2,4 centavos por dólar, sendo negociados a cerca de 57 centavos, segundo dados indicativos compilados pela Bloomberg — a maior queda desde 30 de setembro.
A falta de intervenção no mercado cambial por parte de ambos os governos também pesou nas negociações. A taxa de recompra de pesos com garantia overnight — conhecida na Argentina como caución — saltou de 77,5% na segunda-feira para 115%. A taxa à vista do peso argentino caiu quase 1%, para 1.360 por dólar, na terça-feira, e os contratos futuros de peso também recuaram.
Desde abril, a Argentina tem permitido que o peso flutue dentro de uma faixa, como parte de seu acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). No entanto, as autoridades intervieram várias vezes dentro dessa faixa, que se amplia diariamente em ambas as direções.
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos comprou pesos diretamente na semana passada, após tentativas fracassadas das autoridades argentinas de conter a desvalorização da moeda. No entanto, ainda não está claro quanto os EUA gastaram no mercado cambial argentino, e detalhes adicionais sobre a linha de ajuda financeira ainda não foram divulgados. Nem a Casa Branca nem o Departamento do Tesouro responderam imediatamente a pedidos de comentário.
Nesta quarta-feira, o ministro da Economia, Luis Caputo afirmou que os Estados Unidos seguirão apoiando o peso e mantêm seu compromisso de ajudar o país com uma linha de swap de US$ 20 bilhões, independentemente do resultado das eleições legislativas deste mês na nação sul-americana.
Em entrevista ao canal digital argentino LN+., no domingo, Caputo disse que o apoio do Tesouro americano ao peso argentino permanece firme e que os EUA “estão dispostos a continuar comprando pesos e títulos, e todas as opções estão sobre a mesa”.
Câmbio flutuante
O responsável pela desregulamentação do governo Milei, Federico Sturzenegger, afirmou no Bloomberg Global Regulatory Forum, na terça-feira, que a Argentina “em breve terá um câmbio flutuante”.
— As faixas estão se abrindo à medida que avançamos — na verdade, bem rapidamente. Portanto, a Argentina está fazendo uma transição para uma taxa de câmbio flutuante. Teremos uma taxa de câmbio flutuante muito em breve — afirmou Sturzenegger.
Sturzenegger, que presidiu o Banco Central da Argentina durante o governo do ex-presidente Mauricio Macri, posteriormente esclareceu seus comentários.
Mais tarde, ele esclareceu que as bandas de negociação seriam ampliadas gradualmente, permitindo, “com o tempo, uma transição para um regime de câmbio flutuante.”
“De forma alguma eu disse que as faixas cambiais seriam alteradas, nem sugeri uma mudança no regime cambial”, afirmou ele no X duas horas depois de suas declarações iniciais. “O que eu disse é que a Argentina tem faixas cambiais que se ampliam ao longo do tempo, permitindo, eventualmente, uma transição para um regime de taxa de câmbio flutuante.”
Investidores argumentam que a Argentina eventualmente terá de abandonar as faixas cambiais que mantêm o peso em níveis artificialmente altos. Eles esperam uma mudança na política cambial após a eleição do dia 26, na qual metade das cadeiras do Congresso estará em disputa. Milei precisa conquistar um apoio legislativo mais amplo para avançar com suas reformas mais controversas.
Apoio à filosofia econômica de Milei
Embora Trump, em outros momentos, tenha descartado a ideia de que a assistência americana tivesse como objetivo beneficiar Milei politicamente, ele também enfatizou repetidamente que o swap cambial de US$ 20 bilhões — destinado a reforçar o peso argentino e acalmar os mercados financeiros do país sul-americano — tinha a intenção de demonstrar apoio à filosofia econômica do líder argentino.
Faltando menos de duas semanas para uma eleição legislativa crucial, o resultado determinará o futuro dos esforços de reforma de Javier Milei. Economista libertário, o presidente argentino empunhou uma motosserra como símbolo de sua defesa por cortes nos gastos públicos e uma série de medidas de austeridade que se mostraram impopulares entre os eleitores, contribuindo para o aumento de sua taxa de rejeição.
Enquanto isso, a assistência financeira extraordinária dos Estados Unidos também tem feito pouco para melhorar a imagem de Milei junto aos eleitores. Caso seu partido libertário obtenha entre 35% e 40% dos votos para o Congresso em 26 de outubro, os investidores considerariam isso uma vitória. Qualquer resultado abaixo de 30%, porém, provavelmente desencadearia uma forte onda de vendas.
“Condicionar o apoio do governo dos EUA a uma vitória de Milei de forma explícita pode, na verdade, representar um golpe político à campanha dos libertários”, afirmou Ramiro Blazquez, estrategista da StoneX em Buenos Aires, em mensagem por e-mail.
Embora a votação deste mês renove quase metade do Congresso, a próxima eleição presidencial na Argentina está marcada para 2027. O porta-voz de Milei, Manuel Adorni, apontou para essa eleição futura como um ponto de virada para o país.
“Hoje, na Argentina, há um governo que defende as ideias corretas”, disse ele em uma publicação no X (antigo Twitter). “Se a Argentina seguir o caminho do socialismo ou retroceder em 2027, nada disso acontecerá e voltaremos atrás.”
Tribuna Livre, com informações da Agence France Presse