No interior das galerias, bombeiros corriam contra o tempo
para socorrer quatro homens presos a cerca de 900m de profundidade
(crédito: Raul Arboleda/AFP)
Do lado de fora da mina de carvão de Sutatausa, no
departamento de Cundinamarca (centro da Colômbia), familiares dos trabalhadores
viviam momentos de desespero e angústia. No interior das galerias, bombeiros
corriam contra o tempo para socorrer quatro homens presos a cerca de 900m de
profundidade — outros seis tinham sido resgatados com vida. Às 20h45 de
terça-feira (22h45 em Brasília), explosões provocadas pelo acúmulo de gás
mataram 11 mineradores e feriram nove. “Cada minuto que passa é menos tempo
de oxigênio”, afirmou Nicolás García Bustos, governador de Cundinamarca,
em entrevista à Rádio Blu. Segundo ele, as explosões ocorreram em uma galeria
de seis minas legais “que se comunicam entre si”.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, usou o perfil no
Twitter para comentar o acidente. “Uma lamentável tragédia ocorreu na mina
de Sutatausa, onde morreram 11 pessoas. Estamos fazendo todos os esforços com o
governo de Cundinamarca para resgatar com vida as pessoas presas. Um abraço de
solidariedade às vítimas e a seus familiares”, escreveu.
“Eu estava trabalhando normalmente quando senti (o
estrondo). Senti como se fosse me afogar, e não via nada”, contou à
agência France-Presse o minerador Joselito Rodríguez, um sobrevivente de 33
anos. “Graças a Deus, estamos bem, mas outros estão sem vida”,
acrescentou, depois de ser atendido em um hospital. O acúmulo de gases tóxicos
no subsolo é o motivo mais comum de tragédias em minas de carvão na América do
Sul. Em junho do ano passado, 15 trabalhadores morreram em uma mina do
município de Zulia, perto da fronteira com a Venezuela.
A tragédia de Sutatausa traz à tona as lembranças de
outro acidente, na mina de San José, em Copiapó, no norte do Chile, em 5 de
agosto de 2010. Durante 69 dias, 33 mineradores ficaram presos a 700m de
profundidade, depois de um desmoronamento bloquear a passagem da galeria. Os
trabalhadores foram resgatados com o auxílio de uma cápsula feita sob medida,
em uma operação transmitida ao vivo pela televisão para todo o planeta.
Em entrevista ao Correio, Mario Sepúlveda, 52 anos, o
líder dos 32 mineradores, lamentou o acidente na Colômbia. “Eu sinto muita
pena e muita tristeza por essa situação. Apesar de todos os avanços, com toda a
tecnologia existente, ainda ocorre esse tipo de acidente, o que é uma lástima.
Também sinto muita raiva e impotência por presenciar, mais uma vez, outra
tragédia. Só me resta orar e pedir pelos familiares dos afetados. Peço a Deus
que tenha bondade e piedade.”
Segundo Sepúlveda, todas as minas possuem refúgios, nos quais
os trabalhadores podem se abrigar após desmoronamentos. “Nesses locais, há
água e comida suficientes para garantir a sobrevivência por alguns dias”,
explicou o chileno. “Em uma tragédia assim, os mineradores precisam
aferrar-se à fé e ao conhecimento técnico que eles têm. O ser humano é de fácil
adaptação. Os companheiros precisam ter a sabedoria e a firmeza espiritual e
física para se adaptarem às condições da mina.”
“Durante o tempo em que eu e meus companheiros
ficamos presos na mina de San José, houve muitos momentos tensos. Depois do
primeiro desmoronamento, tivemos outros. Éramos 33 pessoas, 33 pensamentos e
ideologias distintas. Felizmente, o acidente teve um bom desfecho. O governo
empenhou recursos, força, vontade e trabalho para nos resgatar. Estamos muito
atentos ao que ocorre na Colômbia.”
Mario Sepúlveda, líder dos 33 mineradores resgatados da
mina de San José, no Chile, após 69 dias presos