Laudo do Instituto Médico Legal (IML) comprova que os
quatro corpos carbonizados em Cristalina (GO) são de Elizamar da Silva, 37, e
dos filhos dela. O cadáver enterrado no quintal de casa em Planaltina é de
Marcos Antônio Lopes de Oliveira, 54
(crédito: Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Um dos crimes mais bárbaros da história do Distrito Federal
teve, ontem, confirmados os primeiros nomes das vítimas e a convicção de uma
articulação criminosa macabra. Após sete dias, o resultado do laudo do
Instituto Médico Legal (IML) comprovou que os quatro corpos encontrados
carbonizados dentro de um carro, em uma rodovia de Cristalina (GO) — cerca de
30km de distância de Brasília — são da cabeleireira Elizamar da Silva, 37 anos,
e dos filhos, Gabriel, 7, e os gêmeos Rafael e Rafaela, 6. Nesta quinta-feira
(19/1), papiloscopistas da Polícia Civil (PCDF) identificaram também o cadáver
localizado enterrado no quintal de uma casa, em Planaltina. Pela análise da
impressão digital, os peritos confirmaram tratar-se de Marcos Antônio Lopes de
Oliveira, 54, sogro de Elizamar. Cinco pessoas seguem desaparecidas: Thiago
Belchior, 30; a ex-mulher de Marcos, Cláudia Regina Marques de Oliveira, e a
filha deles, Ana Beatriz Marques de Oliveira; a esposa, Renata Belchior, 52, e
a filha do casal, Gabriela Belchior, 25. Os três presos tiveram as prisões
convertidas em preventiva ontem e serão transferidos para o Complexo
Penitenciário da Papuda.
A confirmação das identidades dos cinco corpos só foi possível
por meio da coleta do material de DNA dos parentes, impressões digitais e
arcada dentária. Com os laudos prontos, a hipótese trabalhada anteriormente
pelos investigadores da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) é reforçada. Segundo
a polícia, o indício mais provável é de que Horácio Carlos Ferreira Barbosa,
49, Gideon Menezes, 55, e Fabrício Silva Canhedo, 34, tenham se associado,
planejado e executado os assassinatos para se apossar do dinheiro das vítimas.
O corpo de Marcos foi encontrado enterrado no quintal da
mesma casa onde a mulher dele, Renata, e a filha, Gabriela, foram mantidas em
cárcere privado por mais de 24 horas antes de serem estranguladas e mortas,
segundo confessou o próprio Horácio na delegacia. Marcos foi decapitado e teve
os braços e as mãos arrancados. Durante as buscas no endereço, os
investigadores notaram que a terra do quintal havia sido mexida. Cães
farejadores do Corpo de Bombeiros (CBMDF) apresentaram um comportamento
estranho ao se aproximarem em um canto do terreno.
Os bombeiros começaram o processo de escavação e localizaram
o cadáver cerca de duas horas depois. Ontem, policiais realizaram novas buscas,
à procura dos outros três possíveis corpos de Thiago, Cláudia Regina e Ana
Beatriz. Pela manhã, as diligências se concentraram em uma chácara do
Condomínio Residencial Novo Horizonte, no Itapoã, onde residiam os familiares.
De acordo com o tenente Mauro Coimbra, foram utilizadas cinco viaturas, 17
militares, dois cães farejadores e um drone. “A área de mata fechada foi
varrida pelos cães farejadores e a área aberta foi observada pelos drones para
verificar se havia alguma área de terra removida recentemente ou algum outro
indício da presença de corpos nesse local. Os mergulhadores também fizeram uma
avaliação no ribeirão Sobradinho, mas descartaram a possibilidade de corpos
terem sido jogados dentro do córrego”, informou. Pela tarde, bombeiros e
policiais civis estiveram na área de Santos Dumont, a cerca de 4km do Vale do
Sol, em um lixão, mas nada foi localizado.
Motivação
Em depoimento, Horácio confessou também ter matado Renata e
Gabriela. Segundo ele, as duas, depois de serem mantidas em cárcere, foram
levadas de carro até uma via de Unaí (MG) e, posteriormente, estranguladas e
carbonizadas. O veículo, um Siena, pertencia a Marcos e foi encontrado na tarde
de sábado. No entanto, ainda não é possível dizer se os dois corpos são de fato
da mãe e filha, pois o laudo do IML não ficou pronto.
Ricardo Viana, delegado responsável pelo caso, afirmou que a
descoberta do corpo na tarde de quarta-feira foi uma surpresa e vai ajudar nas
investigações. De acordo com o chefe da 6ª DP, são trabalhadas duas linhas de
investigação. “Estamos apurando duas vertentes que se bifurcavam, uma que
foi apresentada no interrogatório do Gideon, em que Marcos, Tiago, Claúdio e a
filha seriam co-autores desse crime, ajudaram eles a praticar, pagaram eles por
essa empreitada criminosa e teriam fugido do DF para viverem uma nova
vida”, pontuou.
A segunda hipótese é a de que Gideon, Horácio e Fabrício
executaram os integrantes da família para adquirir uma certa quantia financeira
pela venda de imóveis. “Se, através das buscas, for confirmada a
identidade de um dos desaparecidos, prevalecerá a vertente em que os três
presos teriam cometido o crime, e as pessoas passariam de suspeitas para
vítimas”.
Cláudia, que segue desaparecida, guardava na conta R$ 79 mil
em espécie. O Correio apurou que a origem do dinheiro era da casa onde ela
morava no Itapoã, vendida por R$ 200 mil. Os R$ 121 mil restantes foram pagos
por transferência bancária. Apesar de ser ex-mulher de Marcos, a reportagem
identificou que o nome do antigo companheiro consta na documentação de venda do
imóvel, que tem dois quartos, uma suíte, uma sala e cozinha. No encontro com os
interessados pela casa, o clima era de tranquilidade por parte de Cláudia e da
filha Ana Beatriz, também presente no imóvel durante a visita. Entretanto, no
dia que deveria entregar as chaves, em 7 de janeiro deste ano, Cláudia não
estava. A reportagem apurou que foram os dois criminosos presos no caso,
Horácio e Fabrício, que entregaram o imóvel.
Além dos R$ 200 mil, um valor de R$ 400 mil estaria na mira
dos criminosos. O montante pertence à Renata e também é referente à venda de
uma casa, em Santa Maria. Na conta de um dos presos, a polícia encontrou um
total de R$ 40 mil, e na casa de um deles, R$ 15 mil em espécie.
Decisão judicial
Ontem, o Núcleo de Audiência de Custódia (NAC) do Tribunal
de Justiça do DF (TJDFT) converteu em preventiva as prisões dos três suspeitos.
Eles são acusados de associação criminosa, extorsão mediante sequestro e
ocultação de cadáveres. Durante a sessão, o Ministério Público (MDFT) foi
favorável à manutenção das prisões, apontando a gravidade “extrema”
dos atos. O promotor afirmou, ainda, que os crimes não se restringiram ao DF,
mas também a Goiás e Minas Gerais, e lembrou dos antecedentes criminais de
Gideon. Ao deferir a decisão, a juíza ressaltou que o “modo adotado na
execução do delito retrata a periculosidade dos autores do fato”. Por isso,
ela entendeu que a liberdade provisória ou aplicação de medidas cautelares não
são recomendáveis diante da gravidade do caso. O inquérito será encaminhado
para a Vara Criminal do Itapoã, onde o processo vai tramitar.