Um dia depois da
visita de ministro russo e de declarações polêmicas, presidente enfatiza
respeito à integridade territorial ucraniana
(crédito:
Ricardo Stuckert/PR)
O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva baixou o tom, ontem, em relação às declarações que
deu nos últimos dias sobre a guerra na Ucrânia. Em discurso no Itamaraty, na
recepção ao presidente da Romênia, Klaus Werner Iohannis, reforçou a posição
brasileira adotada nas Nações Unidas, de compromisso com a defesa da
inviolabilidade de fronteiras de países soberanos.
“Ao mesmo
tempo em que meu governo condena a violação da integridade territorial da
Ucrânia, defendemos uma solução política e negociada para o conflito”,
justificou.
Depois do
impacto negativo das entrevistas que concedeu em Pequim e em Abu Dhabi
(Emirados Árabes Unidos), Lula evitou conversar com a imprensa, ontem, no
evento com o presidente romeno — que está em viagem oficial ao Brasil. O país
do Leste Europeu faz parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)
e tem mais de 600km de fronteira com a Ucrânia.
Lula optou por
ler um discurso diplomático, em que voltou a demonstrar preocupação com os
resultados do confronto entre Rússia e Ucrânia. “Falei da nossa
preocupação com os efeitos da guerra que extrapolam o continente europeu.
Reiterei minha preocupação com as consequências globais desse conflito em
matéria de segurança alimentar e energética, especialmente sobre as regiões
mais pobres do planeta”, destacou.
Receptividade
O recuo na
retórica foi bem recebido por diplomatas brasileiros que acompanham as
repercussões das últimas falas de Lula — em especial, a polêmica declaração
dada em Abu Dhabi de que “a decisão da guerra foi tomada por dois
países”, equiparando Rússia e Ucrânia como responsáveis pela deflagração
do conflito armado. Essa afirmação, em particular, provocou forte reação de
autoridades dos Estados Unidos e da Europa.
Ontem, foi a vez
do G7 — grupo formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália,
Japão, Reino Unido e União Europeia — divulgar uma dura nota, no mesmo dia em
que o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, estava em
Brasília, em visita oficial. Após uma reunião de chanceleres, no japão, o
colegiado reafirmou a posição de intensificar as sanções econômicas contra a
Rússia. E avisou: os países que insistirem no apoio ao governo de Moscou
sofrerão “severos custos”.
Uma fonte da
diplomacia brasileira disse ao Correio que a reação dos EUA e de seus aliados é
um recado de que não aceitam novos interlocutores na moderação do conflito com
a Rússia. “Estão dando bola preta para Lula, não admitem intermediação que
não seja a deles. É uma disputa pela narrativa da guerra”, avaliou.
Mas ponderou que,
no campo da diplomacia profissional, o tom é bem mais moderado. “Na
diplomacia de Estado, a situação é sempre mais amena, e a tendência é essa
mesma, a de baixar o tom”, explicou, recomendando, porém, que Lula module
suas declarações para “evitar mais ruídos”.
Um embaixador de
primeira classe, que esteve com Lula na viagem à China e aos Emirados Árabes
Unidos, foi na mesma linha. Disse que, apesar das declarações dos últimos dias,
a posição oficial brasileira permanece exatamente a mesma que adotou ao votar a
favor da resolução da ONU que condenou a invasão russa, em fevereiro. “O
que vale, para nós, é a posição que adotamos nas Nações Unidas. Não são
declarações esporádicas”, afirmou.











