12/07/2025

PEC do Quinquênio caminha para hibernação no Senado

Senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). - (crédito: Beto Barata/Agência Senado)

Proposta do Senado que restaurava o ganho do quinquênio para Judiciário e MP deve empacar devido à tragédia gaúcha

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria um adicional de 5%, a cada cinco anos, para carreiras como juízes, promotores e procuradores do Ministério Público, volta à pauta do Senado, nesta semana, para as últimas duas sessões de debates antes da votação em primeiro turno. Mas tem tudo para não avançar, pelo menos por ora, em função da mobilização dos Três Poderes para a crise da devastação do Rio Grande do Sul por causa das chuvas. A expectativa é de que matérias que criam aumentos de gastos para o governo tendem a hibernar, pelo menos enquanto não houver um projeto com orçamento definido e maior detalhamento de medidas excepcionais voltadas à reconstrução do estado.

Mesmo porque, a chamada PEC do Quinquênio promete custar, até 2026, R$ 82 bilhões aos cofres públicos, segundo um levantamento da Consultoria de Orçamento do Senado. Porém, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), refuta tal estimativa. Autor do projeto, ele assegura que o impacto não ultrapassaria R$ 3 bilhões.

“O estudo do impacto orçamentário para a União é de menos de R$ 3 bilhões, que é um valor, inclusive, inferior ao do fim dos supersalários do Judiciário e do Ministério Público. É muito importante para a valorização de carreiras que têm especificidades”, garantiu Pacheco.

Apesar do comprometimento do presidente do Senado com a tramitação, a PEC já era motivo de má vontade de setores do Congresso — e não apenas da base do Palácio do Planalto. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deixou claro que não daria prioridade à matéria por prever resistências dos deputados. Mas, agora, com a crise humanitária e de infra-estrutura no Rio Grande do Sul, a possibilidade de textos que propõem aumento de gastos — sobretudo em benefício de categorias profissionais — tem tudo para não seguir adiante.

Mas não era apenas dentro do Congresso e na equipe econômica que a PEC do Quinquênio tinha poucas simpatias. A Federação Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Judiciário Federal e Ministério Público da União (Fenajufe) também é contra a matéria. Para a entidade, a proposta “vai ocupar ainda mais o orçamento com a cúpula, não deixando espaço para as reivindicações básicas dos servidores”.

Segundo a Fenajufe, a matéria é uma “tentativa de ampliação dos privilégios e penduricalhos destinados à mais alta cúpula do Poder Judiciário”. A federação calcula que, caso seja aprovada, a PEC afetará a reposição salarial pela inflação e as nomeações de servidores a partir de concursos.

“Fura teto”

Por não ser incluída diretamente na folha salarial, a proposta permite que membros das carreiras por ela contempladas possam obter uma remuneração mensal superior ao teto permitido pela legislação atual. Diante disso, opositores ao projeto e uma boa parte dos analistas a classificam como “fura teto”.

Na avaliação de Murilo Viana, especialista em finanças públicas e mestre em economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), além de ser considerada “inadequada”, levando em conta o aspecto fiscal, a proposta engloba muitas categorias.

“É um valor muito expressivo. Quando se fala em R$ 40 bilhões, se fossem investidos basicamente em qualquer outra função pública, teria um retorno muito superior”, avalia.

Viana também acredita que a PEC iria contra uma possível Reforma Administrativa, ao recompensar o servidor apenas pelo tempo de trabalho, sem considerar o mérito para o acúmulo do bônus. “Tem problemas relacionados ao que seria uma Reforma Administrativa. Tem problemas de desigualdade, pois o grosso do setor público está pressionado pela questão da inflação e pela falta de espaço fiscal para ganhar reajustes”, critica o economista.

Benefícios ampliados

A PEC do Quiquênio contemplava, inicialmente, a magistratura e as carreiras do Ministério Público, mas foram adicionados os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU), os conselheiros dos tribunais de contas municipais e estaduais, defensores públicos, servidores da Advocacia-Geral da União (AGU), procuradores dos estados e do Distrito Federal e os delegados da Polícia Federal. Para ser aprovada, a matéria deve passar por cinco sessões de discussão, antes de ser votada em primeiro turno pelo plenário do Senado e ter o apoio de três quintos da Casa. Então, os parlamentares discutem em outras três sessões antes de ser votada em segundo turno.

Tribuna Livre, com informações da Agência Senado

Deixe um comentário

Leia também
Vazamento de dados em CPI preocupa, diz Wolney Queiroz
Vazamento de dados em CPI preocupa, diz Wolney Queiroz.
Comissão vota pelo fim da aprovação automática nas escolas
Comissão vota pelo fim da aprovação automática nas escolas
PEC da Segurança Pública tem votação adiada após embate na CCJ
PEC da Segurança Pública tem votação adiada após embate na CCJ
Reajuste de 9% para as Forças Armadas avança no Congresso
Reajuste de 9% para as Forças Armadas avança no Congresso
Justiça dos EUA volta a intimar Moraes por censura em ação da Trump Media e Rumble
Justiça dos EUA volta a intimar Moraes por censura em ação da Trump Media e Rumble
Decisão do STF para driblar arcabouço surte efeito contrário e reduz limite de gasto
Decisão do STF para driblar arcabouço surte efeito contrário e reduz limite de gasto
Lula volta a criticar Congresso por derrubada de decreto do IOF
Lula volta a criticar Congresso por derrubada de decreto do IOF
As falhas que o TCU descobriu no combate ao assédio em universidades
As falhas que o TCU descobriu no combate ao assédio em universidades
Líderes do Congresso afirmam que conciliação no STF deve passar por corte de gastos tributários e veem volta do IOF como ' muito difícil'
Líderes do Congresso afirmam que conciliação no STF deve passar por corte de gastos tributários e veem volta do IOF como ' muito difícil'
OAB-SP estuda proposta que limita em até 15 anos mandato de ministro do STF
OAB-SP estuda proposta que limita em até 15 anos mandato de ministro do STF.
Moraes: impacto financeiro de alta do IOF aponta ‘séria dúvida’ sobre natureza da medida
Moraes: impacto financeiro de alta do IOF aponta ‘séria dúvida’ sobre natureza da medida
EXCLUSIVO: Hugo Motta critica polarização política e diz que ‘Congresso está ao lado do Brasil’
EXCLUSIVO: Hugo Motta critica polarização política e diz que ‘Congresso está ao lado do Brasil’

França prende dois paraquedistas por saltarem da Torre Eiffel

Dois homens escalam monumento e pulam de paraquedas antes de serem detidos por autoridades francesas Dois homens escalaram na madrugada desta quinta-feira (10) a Torre Eiffel e saltaram de paraquedas do topo deste símbolo de Paris, antes de serem detidos, indicaram fontes policiais. Com 330 metros de altura, a “Dama

Leia mais...

Inflação desacelera para 0,24% em junho, aponta IBGE

A elevação nos custos da energia elétrica residencial, que subiu 2,96% em junho, pressionou o índice, mas os preços dos alimentos em domicílio registraram a primeira queda em nove meses, o que ajudou a conter o avanço A inflação oficial do país desacelerou para 0,24% em junho, ligeiramente abaixo dos

Leia mais...

Tarifa de Trump derruba mercados e pressiona o dólar

Governo brasileiro promete retaliação; analistas apontam motivação política e risco de inflação com impacto sobre os juros O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras a partir de 1º de agosto provocou forte turbulência no mercado financeiro na manhã

Leia mais...

Vazamento de dados em CPI preocupa, diz Wolney Queiroz.

Ministro da Previdência afirma que congressistas podem procurar desgastar adversários com informações sigilosas. O ministro Wolney Queiroz (Previdência) disse que se “preocupa” com o risco de vazamento de informações sigilosas na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). O colegiado deve começar a funcionar

Leia mais...

A sua privacidade é importante para o Tribuna Livre Brasil. Nossa política de privacidade visa garantir a transparência e segurança no tratamento de seus dados pessoais.