Polícia Federal verificou que as vítimas aceitavam condições ao longo de anos por acreditarem que trabalhavam para uma missão divina
A Polícia Federal (PF), em cooperação com o Ministério
Público do Trabalho (MPT) e a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego,
deflagrou, na manhã desta quinta-feira (16/2), a Operação O Impostor, para
combater crimes de redução de pessoas a condições de trabalho análogas à
escravidão e a violação sexual mediante fraude. As equipes cumpriram um mandado
de busca e apreensão expedido pela Justiça Federal de São Paulo.
A corporação apurou que as vítimas eram atraídas para a
instituição do suspeito por meio do programa de rádio dele, que trata de
espiritualidade e motivação. A partir disso, elas decidiam conhecer a
organização pessoalmente.
No local, ocorrem palestras e outras atividades. Depois,
durante semanas de “tratamento” e “treinamento”, as vítimas eram convencidas a
contribuir com a instituição e a trabalhar voluntariamente ou em troca de
pequenas quantias, segundo a investigação.
Com o tempo, eram persuadidas a ficar mais na instituição
e a trabalhar para o investigado. Em seguida, convidadas a morar com ele e
outros integrantes do grupo, pois seria “mais prático e econômico”, de acordo
com os relatos do líder espiritual às vítimas.
“Prisão psicológica”
As vítimas, então, trabalhavam durante todo o dia, com
dedicação exclusiva, sem receber o “salário” combinado nem ter alimentação
adequada. As pessoas aceitavam as condições ao longo de anos por acreditarem
que trabalhavam para uma missão divina, segundo apurado pela PF.
O controle do grupo se mantinha por meio de um
organograma hierarquizado, no qual o suspeito era considerado “grão-mestre”,
“escolhido” pelo arcanjo Miguel. Quem não cumpria o determinado ou esperado
pelo investigado era exposto e humilhado, em reuniões do grupo, e sofriam
violência psicológica por meio de “maldições e ameaças” em nome de Deus e dos
anjos.
As vítimas temiam sair do local ou entrar em contato com
pessoas de fora sem autorização do suspeito, por medo das consequências. Uma
das vítimas relatou que vivia em uma “prisão psicológica”.
Sob controle do líder espiritual, as vítimas assinavam
documentos, confiando no suspeito, com a justificativa de que ajudavam na
missão. No entanto, o investigado criou diversas empresas nos nomes dos fiéis e
contraiu várias dívidas.
As vítimas ouvidas só descobriram a existência das
empresas e dos débitos após a saída da organização. O investigado pode
responder pelos crimes como redução de alguém a condição análoga à escravidão,
violação sexual mediante fraude e lavagem de dinheiro. Somadas, as penas podem
ultrapassar 14 anos de prisão.