16/12/2025

PT organiza transição e negocia para ter maioria no Congresso em 2023

 Petistas tentam não ampliar polêmicas
com Bolsonaro, mas preveem dois meses de instabilidade até posse de Lula


Membros da campanha vencedora na disputa pela Presidência da República
querem fugir do clima bélico com o presidente Jair Bolsonaro (PL) para não
dificultar ainda mais uma transição que promete ser complicada. A ordem no PT e
em partidos aliados é esquecer um pouco as polêmicas de Bolsonaro e focar no
futuro: a montagem do novo governo Lula e a construção de uma maioria no
Congresso que vai assumir em 2023.

Apesar de planejarem uma suavização do discurso, os petistas estão se
preparando para dois meses de instabilidade política e resistência dos
bolsonaristas mais radicais em aceitar o resultado das urnas, sobretudo após o
presidente evitar desmobilizar a militância no primeiro pronunciamento que fez
após a eleição, nessa terça (1°/11).

A transição entre os governos começa oficialmente na quinta-feira
(03/11), após o feriado. O escolhido pela chapa vencedora para coordenar o
processo será o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), que deverá
trabalhar em conjunto com a presidente nacional do PT, deputada federal
reeleita Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Alozio Mercadante.

A ideia é começar a transição focando no acesso a dados do governo
federal e sem pressa para anunciar nomes de ministros, até porque essa
articulação passa pela prioridade do governo eleito no momento, que é buscar
uma maioria no Congresso no ano que vem.

Gleisi é quem está liderando essa frente. A deputada já está negociando
com lideranças que são aliados em potencial, como o presidente do MDB, Baleia
Rossi. Apesar de uma ala do partido estar chateada com o presidente eleito,
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por ele ter chamado o ex-presidente Michel
Temer (MDB) de golpista, há muitos emedebista que apoiam Lula abertamente,
incluindo a senadora Simone Tebet, que foi candidata a presidente pela legenda.

A conversa também já está avançada com o PSD, cujo presidente, Gilberto
Kassab, já adiantou que deve fazer parte da base aliada no plano federal.
Outros partidos que não estão na base de Bolsonaro hoje, como Cidadania, União
Brasil e PSDB, também serão chamados pelos petistas para conversar.

As negociações ainda estão começando, mas têm chances altas de sucesso
na opinião do especialista Mario Braga, analista de riscos políticos da
consultoria internacional Control Risks, para quem os grupos políticos deverão
se adaptar ao resultado da eleição presidencial. “Diferente do que foi falado
após o resultado do primeiro turno, não acho que exista o risco de Lula começar
seu mandato incapacitado de governar por falta de apoio no Congresso.

 “Como sabemos, os políticos do
Centrão são pragmáticos em sua maioria e deverão ser receptivos a negociações
envolvendo espaço e cargos”, aposta ele, que acha que isso deve ocorrer mesmo
em partidos que elegeram bolsonaristas mais ideológicos.

Como consequência da frente ampla que vem montando desde a campanha,
Lula também deverá mostrar um perfil mais pragmático do que radical ao começar
a governar, avalia Braga. “Esperamos um pragmatismo principalmente do ponto de
vista econômico. Isso não significa que o novo governo vá abandonar promessas.
Deverá haver um foco no combate à pobreza, mas imaginamos que o gasto social
será conciliado com algum nível de responsabilidade fiscal”, afirma ele, que
aposta no cumprimento da promessa de campanha de revogar o Teto de Gastos
criado no governo Temer e “driblado” na gestão Bolsonaro.

“Ainda não sabemos que regra o governo Lula vai adotar, mas aposto em
uma regra que permita gastos públicos, mas que tenha regras visando estabilizar
a dívida pública no longo prazo”, completa o analista de risco, cuja empresa
tem entre seus clientes investidores estrangeiros.

Instabilidade no horizonte

Enquanto planejam o futuro, os vencedores da eleição não deixam de olhar
com preocupação para movimentações políticas do presente, como a mobilização de
bolsonaristas radicalizados que têm feito bloqueios em rodovias desde o domingo
da eleição (30/10).

Para o analista de risco Mario Braga, a chance de instabilidade política
por causa da insatisfação dos perdedores é uma realidade, mas não a ponto de
trazer riscos de ruptura institucional. “Essa mobilização com os caminhoneiros
já estava no nosso radar, era uma das opções que Bolsonaro tinha para
questionar o resultado. E ainda que não tenha tanto alcance assim, é um
problema com capacidade para gerar impacto operacional forte, sobretudo se
demorar. Já temos fábricas suspendendo turnos e cidades à beira do desabastecimento
de combustível”, afirma ele.

“E, para além dos caminhoneiros, há ainda a chance que o bolsonarismo
radical consiga promover episódios de insubordinação nas polícias. Esses dois
ingredientes, porém, não são suficientes para trazer riscos institucionais.
Faltam elementos que seriam fundamentais para o sucesso, como o apoio de pelo
menos parte do Judiciário e do poder político, coisas que Bolsonaro não
conseguiu. O Judiciário tem se mantido resiliente e o universo político foi
rápido em reconhecer a vitória de Lula, impossibilitando qualquer construção de
um discurso de ruptura”, conclui Braga.

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