Em entrevista à coluna, ex-diretor do Ministério dos Direitos Humanos relatou episódios de assédio moral do então ministro Silvio Almeida
O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) acionou a PF, o Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos após os relatos de Leonardo Pinho, ex-diretor do Ministério dos Direitos Humanos, de que sofreu assédio moral e ameaças do então ministro da pasta, Silvio Almeida. A decisão foi tomada na quinta-feira (12/9) durante a reunião do colegiado, após Pinho detalhar os supostos episódios de assédio em uma entrevista à coluna.
Órgão ligado ao Ministério dos Direitos Humanos, o Programa de Proteção fará uma análise técnica do pedido de inclusão de Pinho. A PF e o MPT, que abriram inquéritos para apurar os supostos episódios de assédio moral e sexual de Almeida no ministério, receberam formalmente os relatos de Pinho.
Pinho disse que Silvio Almeida lhe pediu para gravar reuniões escondido, além de socar a mesa, bater no próprio peito, xingar e intimidar o então diretor da pasta em reuniões no seu gabinete de ministro.
“Por volta de outubro, ele me chamou ao gabinete dele e me pediu para gravar reuniões com a minha equipe, que tinha se recusado a assinar documentos fora do fluxo do ministério. Também pediu para eu gravar integrantes do Ciamp [Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua], que haviam criticado o plano do ministério por falta de transparência. Eu falei ‘não’. Foi a mesma cena: ele se levantou da mesa, xingou e deu socos na mesa. Me disse que os meus dias estavam contados.
Segundo Pinho, naquela conversa, ele teria sugerido melhorar a relação com os ministérios, e citou Anielle. Disse aquilo porque havia recebido relatos de dificuldade na relação entre os dois ministros. “Imaginei que era assédio moral, por causa da subordinação orçamentária da Igualdade Racial aos Direitos Humanos. A Anielle dependia do Silvio em termos de orçamento para tudo, até para passagens aéreas”, contou.
Mas, de acordo com ele, o ministro reagiu mal. “Ficou descontrolado, transtornado, quando mencionei a Anielle. Me falou: ‘Você está insinuando o quê? Sou ministro de Estado, você é um merda’. Fiquei sem entender e tive medo de ele me agredir. Ele também disse, em relação ao meu trabalho no ministério: ‘Eu vou acabar com a sua vida, você não vai mais existir’”.
“Saí da reunião, liguei para minha esposa e chorei. Tive problemas de saúde por causa dessa situação, pressão alta, diabetes, ganhei peso. Eu já estava decepcionado com ele, mas ali fiquei com medo. Era uma pessoa de envergadura, que foi sócio de escritórios importantes de advocacia.”
Pinho também relatou ter recebido uma ligação em tom de ameaça no último dia 6, após a coluna revelar que Almeida era acusado de assédio sexual contra mulheres.
Segundo o ex-diretor do ministério, uma voz masculina disse, em tom de ameaça: “Não vou aceitar. O complô vai ser desmantelado. Para de falar. O Silvio é sócio de grandes escritórios de advocacia. É sócio do Walfrido Warde”.
Tribuna Livre, com informações do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH)