Grupos pró e contra guerra em Gaza se enfrentam em Los Angeles, enquanto mais de 300 pessoas são presas em Nova York durante retomada de prédio de Columbia. Casa Branca lamenta que “pequeno percentual” de ativistas cause distúrbios
Inicialmente pacíficos, o movimento pró-Palestina que se alastrou por universidades dos Estados Unidos vem ganhando contornos violentos, elevando a preocupação das autoridades. Ontem, um forte esquema de policiamento se manteve de prontidão na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) depois de uma madrugada de enfrentamentos de grupos opostos no acampamento montado por universitários em defesa dos palestinos. Os tumultos ocorreram depois que dezenas de policiais entraram na Universidade de Columbia, em Nova York, na noite de terça-feira, e dispersaram um edifício ocupado por ativistas. Mais de 100 foram presos na operação.
Em Los Angeles, manifestantes pró-Palestina e pró-Israel se enfrentaram com paus, derrubando barricadas e jogando fogos de artifício e objetos no meio da noite. Também usaram gás lacrimogêneo, segundo um jornalista da agência de notícias France-Presse (AFP). O Departamento de Polícia informou nas redes sociais que, a pedido da reitoria, agentes foram destacados para restaurar a ordem no câmpus da UCLA.
O reitor, Gene D. Block, destacou que muitos dos manifestantes e contra manifestantes “eram pacíficos”, assinalando, porém, que “as táticas de alguns foram absolutamente chocantes e vergonhosas”. “Vimos muitos casos de violência”, disse. Por sua vez, a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, disse que essa ferocidade é “absolutamente abominável e indesculpável”.
A Casa Branca, que já monitorava a situação de Columbia com apreensão, reafirmou que defende o direito dos americanos de protestar. Ressaltou, no entanto, que “um pequeno percentual” está causando desordem nos campi universitários. “Acreditamos que são poucos estudantes que estão causando esses distúrbios e, se eles forem protestar, os americanos têm esse direito, pacificamente dentro da lei”, disse a porta-voz Karine Jean-Pierre. Ela acrescentou que a Casa Branca continuará pedindo que o antissemitismo seja denunciado.
Desocupação
Em Nova York, cerca de 300 pessoas foram detidas na Universidade de Columbia e no City College, de acordo com o prefeito Eric Adams. Ele acusou grupos de fora das universidades de quererem “semear o caos”, transformando “protestos pacíficos em atitudes perversas antissemitas e anti-Israel”. “Estamos processando as prisões para distinguir entre os estudantes e aqueles que não deveriam estar no câmpus”, disse Adams
Em Columbia, policiais subiram em uma plataforma montada em um caminhão até o segundo andar do Hamilton Hall, invadido horas antes, e conduziram estudantes algemados passando em frente a uma multidão que gritava “Palestina Livre”. A reitora Minouche Shafik pediu a intervenção em uma carta pública na qual afirmava que a ocupação era liderada “por indivíduos não ligados à universidade”.
Shafik também solicitou a manutenção do esquema policial na universidade até, pelo menos, 17 de maio para manter a ordem e garantir que nenhum acampamento seja instalado. Em uma publicação no Instagram, os manifestantes atacaram a reitora, dizendo que “seu uso das palavras ‘cuidado’ e ‘segurança’ é simplesmente horrível”.
A ocupação de Hamilton Hall foi uma resposta à suspensão de alunos por não cumprirem ordens de desmobilizar o acampamento montado no jardim da universidade. Entre outras exigências, os organizadores do protesto pediram que a administração de Columbia rejeitasse todo o financiamento ligado a Israel.
De costa a costa
As manifestações foram repetidas em várias universidades do país, na maior mobilização desde os protestos contra a Guerra do Vietnã, nas décadas de 1960 e 1970. A tomada de Hamilton Hall foi condenada pelo presidente Joe Biden, que pediu para garantir a liberdade de expressão dos estudantes e evitar atos antissemitas. Seu antecessor e rival nas eleições de novembro, Donald Trump, culpou o democrata pelo “antissemitismo impregnado no país”.
Os protestos contra a guerra de Gaza têm sido um desafio para as autoridades universitárias equilibrarem o direito à liberdade de expressão com as queixas de que as concentrações têm levado ao ódio e ao antissemitismo.
Na terça-feira, a Universidade Brown chegou a um acordo para que os estudantes desmontassem o acampamento. Em troca, a reitoria se comprometeu a realizar uma votação sobre o desinvestimento em Israel, uma concessão importante para uma universidade de elite dos Estados Unidos.
Entretanto, em outras instituições, como a Universidade da Carolina do Norte, a californiana Cal Poly Humboldt e a Universidade do Texas, em Austin, a polícia interveio para desocupar um acampamento e deter os manifestantes, com centenas de prisões em todo o país.
No Arizona, a polícia indicou ter usado gas lacrimogêneo para dispersar uma “concentração ilegal” no câmpus. Os organizadores do protesto negam as acusações de antissemitismo e defendem que suas ações são dirigidas ao governo de Israel e sua condução do conflito em Gaza, iniciado em outubro do ano passado, depois que extremistas do Hamas invadiram o território israelense e mataram mais de 1,1 mil pessoas.
Tribuna Livre, com informações da Agence France Presse.