Índice no Distrito Federal alcançou 15%, em setembro, o
patamar mais baixo dos últimos seis anos. Rendimentos dos mais pobres
aumentaram um pouco, enquanto os mais ricos sofreram perdas
Setor de serviços foi um dos que mais impulsionou redução no
desemprego, segundo a pesquisa – (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
A taxa de desemprego do Distrito Federal atingiu 15%, em
setembro de 2022, índice registrado pela última vez em janeiro de 2016. Em
relação aos últimos 12 meses — quando 17,7% da população economicamente ativa
(PEA) estavam sem emprego — houve uma queda de 2,2%. Ao mesmo tempo, os
rendimentos de quem ganha mais caíram. Quem recebe menos teve os ganhos
aumentados, mas pouco. Os dados são da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED),
divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF), em
parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese).
Em relação ao mês anterior, a taxa apresentou ligeira
redução, passando de 15,3% para 15,0% da PEA. A queda, segundo a coordenadora
da PED pelo Dieese, Lucia Garcia, ocorreu porque foram geradas 4 mil vagas e
mil pessoas se desligaram ou foram demitidas de seus empregos. “Quando
comparamos o dado atual ao de setembro de 2021, percebemos que a queda do
desemprego foi fortemente influenciada pela saída de pessoas do mercado (de
trabalho), assim como há 12 meses”, aponta.
Lucia destaca que, embora o DF tenha aberto 25 mil postos de
trabalho nessa variação de 12 meses, a saída de pessoas do mercado — 24 mil a
menos — ajudou muito a fazer com que a taxa de desemprego apresentasse queda.
Mesmo assim, a especialista considera que o DF está em uma situação favorável.
Para ela, no entanto, o motivo não é tão “virtuoso”, como seria se
fosse pela liderança dos índices de ocupação de postos de trabalho.
“Estamos em um patamar que precisa ter seu otimismo calibrado a partir de
uma visão mais ampla da série histórica que a pesquisa fornece”, explica.
“Em conjunto com uma visão mais ampla da taxa de desemprego nos últimos
anos, se estendermos a visão para 2015, por exemplo, observamos que o índice de
15% é baixo para os eventos recentes, mas ainda muito mais elevado do que o
daquele ano, que era entre 11% e 12%”, completa.
Sem entusiasmo
Algumas outras questões também são bastante importantes, de
acordo com a coordenadora do PED pelo Dieese. Lucia Garcia ressalta que, embora
o DF esteja gerando emprego com carteira assinada no setor privado, as vagas
têm valor cada vez menor. “A reforma trabalhista, como sabemos, gera
postos de trabalho mais desqualificados, e com menor acesso a direitos, no
setor privado”, afirma.
Outra questão destacada pela especialista é que há um certo
fechamento dos leques salarial e de rendimentos. “Aqueles que ganham mais,
são os que perdem mais; e aqueles que ganham muito pouco, tem muito pouco a perder
e estão perdendo pouco”, detalha.
De acordo com a PED de setembro, entre julho e agosto de
2022, o rendimento médio real dos ocupados aumentou: 3,8% para os 10% mais
pobres; 2,1% entre os 25% e 50% mais pobres; e 1,7% para os 25%. Enquanto isso,
os demais grupos amargaram queda no rendimento: -2,6% para os 10% mais ricos;
-2,2% para os 25% mais ricos; -0,8% no grupo entre 50% e 25% mais ricos.
Lucia frisa que, quando a massa de rendimento recua, é
prenúncio de um mercado de trabalho mais instável e pior nos meses seguintes.
“Portanto, não somos entusiastas de um final de ano muito feliz para os
trabalhadores brasilienses. É preciso estar muito atento em relação às opções
que tomamos para que possamos, de fato, mudar o rumo dessa história”,
atesta.
Perspectiva histórica
O resultado da PED de setembro decorreu do aumento no número
de trabalhadores no setor de serviços. O coordenador do curso de Economia do
Iesb, Riezo Almeida, lembra que, historicamente, os dados desse período no DF
são positivos, principalmente para esse ramo. “Como é de setembro a
setembro, o recorte pega dois períodos bons de falta de chuvas, onde há oferta
de muitos bens, serviços e restaurantes. Isso movimenta muito outros ramos,
como o serviço de transporte”, reforça.
Mesmo com o cenário pessimista expressado pela coordenadora
do PED, Riezo acredita que é possível comemorar os dados divulgados. “O
dinheiro na economia está girando, ou seja, o fluxo de renda da economia está
positivo. O emprego ajuda muito o trabalhador a comprar, mesmo com a alta dos
preços”, pondera.
Maiores taxas de desemprego
Dez/2015 — 14,5%
Dez/2016 — 18,6%
Mar/2017 — 20,7%
Mai/2018 — 19,4%
Abr/2019 — 19,8%
Jun/2020 — 21,6%
Abr/2021 — 19,6%
Jan, Fev e Mar/2022 — 17%
Fonte: PED-DF, convênio IPEDF/Dieese











