15/01/2025

Enviar dinheiro para a Coreia do Norte é semelhante a estar em um enredo de filme de espionagem.

O intermediário Hwang Ji-sung desertou para o Sul em 2009 - (crédito: Jungmin Choi / BBC)

Diversos indivíduos compartilharam com a BBC os pormenores de uma operação sigilosa e perigosa, que consiste em transferir dinheiro entre as Coreias do Sul e do Norte para assegurar o sustento de seus familiares que permanecem no Norte.

“É como estar em um enredo de filme de espionagem, e as pessoas estão arriscando suas vidas”, afirma Hwang Ji-sung, um sul-coreano que atua como intermediário, auxiliando desertores norte-coreanos a enviar dinheiro crucial de volta para suas casas por mais de uma década. No passado, os norte-coreanos cunharam o termo “raiz Hallasan” para se referir àqueles que recebem ajuda de desertores no Sul, explicou Hwang. O termo Hallasan está associado ao Monte Halla, um vulcão proeminente na pitoresca ilha de Jeju, Coreia do Sul. Ele destaca que ser considerado parte da família Hallasan é altamente desejável, superando até mesmo a afiliação ao Partido Comunista.

Uma pesquisa de 2023 realizada pelo Centro de Banco de Dados para os Direitos Humanos da Coreia do Norte revelou que cerca de 63% dos desertores norte-coreanos entrevistados haviam enviado dinheiro para suas famílias no Norte. No entanto, com a crescente repressão tanto no Norte quanto no Sul, as remessas de dinheiro do Sul para o Norte estão enfrentando ameaças crescentes.

A tarefa já era complexa e arriscada, demandando uma rede clandestina de intermediários e mensageiros espalhados entre a Coreia do Sul, China e Coreia do Norte. Ligações secretas com telefones chineses contrabandeados são estabelecidas em locais remotos, utilizando codinomes para garantir o sigilo. Os riscos são exorbitantes, pois as remessas são proibidas em ambos os lados da fronteira.

Desde 2020, o líder norte-coreano Kim Jong-un intensificou a repressão aos intermediários para conter o fluxo de dinheiro e a influência cultural da Coreia do Sul. Os intermediários correm o risco de serem enviados para campos de prisioneiros políticos, conhecidos como kwan-li-so, onde centenas de milhares de pessoas podem ter perdido a vida.

A repressão na Coreia do Sul também está aumentando, com a casa de Hwang e Joo sendo invadida por agentes da polícia que os acusaram de violar as leis de transações cambiais. Outros intermediários estão sob investigação, e as autoridades sul-coreanas insistem que qualquer transferência de dinheiro para o Norte deve ocorrer por meio de um “banco legítimo”.

Apesar das pressões de ambos os governos, Hwang argumenta que as remessas dos desertores são cruciais não apenas financeiramente, mas também como uma forma de desafiar a Coreia do Norte. Ele está disposto a levar o caso de sua esposa até a Suprema Corte se ela for condenada, destacando que esse é o único meio de desestabilizar o regime norte-coreano sem recorrer à violência.

O processo de enviar dinheiro envolve telefonemas entre desertores no Sul e suas famílias no Norte, utilizando telefones chineses contrabandeados. As ligações são facilitadas por intermediários na Coreia do Norte, que enfrentam desafios significativos para estabelecer essas conexões. Depósitos em contas chinesas e a entrega do dinheiro na Coreia do Norte são realizados por meio de uma complexa rede de mensageiros, todos operando sob pseudônimos e usando códigos para garantir a segurança das transações.

Mesmo diante das crescentes dificuldades e riscos, desertores como Kim Jin-seok estão determinados a continuar enviando dinheiro às suas famílias, mesmo que isso signifique correr grandes riscos pessoais. O valor financeiro é vital, mas para eles, as remessas representam também uma mensagem de prosperidade do Sul, algo que Kim Jong-un teme profundamente.

Tribuna Livre, com informações da BBC Korean

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