14/09/2025

Ex-chefe da Polícia Civil do RJ tentou atribuir assassinato de Marielle a rival dos irmãos Brazão, diz PF

Rivaldo queria que rival dos Brazão recebesse culpa FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL - 13.7.2018

Rivaldo Barbosa tentou fazer com que miliciano assumisse autoria do crime a mando do ex-vereador Marcello Siciliano

As investigações da Polícia Federal sobre o caso do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, que aconteceu em 2018, mostraram que um inquérito de 2015 pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro teria sido utilizado para forçar uma confissão falsa sobre a autoria das mortes.

No entendimento dos investigadores, o então chefe da corporação, Rivaldo Barbosa, e o delegado Giniton Lages queriam que o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica, afirmasse que participou do assassinato da parlamentar a mando do então vereador e rival dos irmãos Brazão, Marcelo Siciliano.

Para realizar a suposta fraude processual, Lages contou com uma testemunha-chave: o ex-policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, conhecido como Ferreirinha. Ele seria o responsável por apontar indícios que distanciariam as apurações sobre a morte de Marielle dos verdadeiros responsáveis do crime. O suposto plano incluía a resolução de um inquérito “hibernado” pela Divisão, o assassinato do sócio de Ferreirinha, Rafael Freitas Pacheco Silva, em 2015.

A PF conseguiu recuperar conversas entre a então testemunha-chave e Marco Antônio de Barros Pinto, integrante da equipe de Lages, que mostram um alinhamento de versões para que, segundo os investigadores, a denúncia contra Curicica pelo assassinato fosse viável.

Em um áudio, Barros Pinto chega a dizer que Ferreirinha teria que se “concentrar” para narrar uma versão dos fatos previamente combinada. “O que você soube do Rafael Pacheco a partir da tua ida na casa dele [Orlando Curicica] lá, que ele te chamou, te obrigou a ir né, e a partir daí você passou a trabalhar com ele, que foi obrigado a trabalhar com ele. Mas sem se vitimizar, sem se vitimizar, aquela coisa que a gente já conversou tá, então se concentra nesse sentido”, diz a transcrição de um áudio enviado ao ex-policial militar antes do testemunho.

Com a versão, Lages e sua equipe se dirigiram ao presídio onde Curicica estava preso, e apresentaram a denúncia. A ideia, segundo o PF, era conseguir uma confissão que indicasse a participação de Siciliano.

“Imputar o delito em tela ao então vereador Marcelo Siciliano teria o condão não só de garantir-lhes a impunidade, mas também fulminaria politicamente um dos concorrentes eleitorais da Família Brazão nos bairros da Zona Oeste carioca”, ressalta o relatório da PF.

De acordo com a corporação, o plano só não deu certo porque a então Procuradora-Geral da República à época, Raquel Dodge, requisitou à PF a abertura de inquérito visando apurar suposta interferência de autoridades policiais responsáveis pelo caso na tentativa de embaraçar ou dificultar a apuração do crime envolvendo os homicídios de Marielle e Anderson.

A PF diz que, mesmo com o Ministério Público e o Poder Judiciário tendo identificado o movimento dos dois, Lages afirmou em depoimento ao MP que Ferreirinha “jura de pé junto” que foi torturado ao ser interrogado pela superitendência da PF no Rio de Janeiro, o que o faz ainda acreditar na hipótese de que o mando dos homicídios esteja atrelado a Siciliano e Curicica.

Segundo a PF, a tentativa de Rivaldo e Lages de imputar os crimes a terceiros “foi o ápice das diligências obstrutórias emanadas pela dupla”. A instituição afirma que “Giniton foi escalado para obstruir os trabalhos investigativos e o fez com esmero”. Além disso, de acordo com a PF, “os trabalhos de sabotagem se iniciaram no momento mais sensível da apuração do crime, as horas de ouro, o que ensejou a perda de elementos de convicção importantes para a sua resolução a contento como, por exemplo, a captação das imagens dos circuitos internos de televisão dos imóveis adjacentes ao local do crime”.

“A orquestração dessa deflexão na investigação, a origem da chegada de Rodrigo Jorge Ferreira […], bem como os exemplos de impropriedades perpetradas pela equipe da DHC [Delegacia de Homicídios da Capital] durante os meses que sucederam os fatos, são indícios robustos de que Giniton Lages cumpriu à risca a missão que lhe fora outorgada, sobretudo por suas condutas terem sufocado diversos meios eficazes de obtenção de prova que, agora, não mais podem ser alcançados pela persecução penal”, diz a corporação.

As investigações da Polícia Federal sobre o caso do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, que aconteceu em 2018, mostraram que um inquérito de 2015 pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro teria sido utilizado para forçar uma confissão falsa sobre a autoria das mortes.

No entendimento dos investigadores, o então chefe da corporação, Rivaldo Barbosa, e o delegado Giniton Lages queriam que o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica, afirmasse que participou do assassinato da parlamentar a mando do então vereador e rival dos irmãos Brazão, Marcelo Siciliano.

Para realizar a suposta fraude processual, Lages contou com uma testemunha-chave: o ex-policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, conhecido como Ferreirinha. Ele seria o responsável por apontar indícios que distanciariam as apurações sobre a morte de Marielle dos verdadeiros responsáveis do crime. O suposto plano incluía a resolução de um inquérito “hibernado” pela Divisão, o assassinato do sócio de Ferreirinha, Rafael Freitas Pacheco Silva, em 2015.

A PF conseguiu recuperar conversas entre a então testemunha-chave e Marco Antônio de Barros Pinto, integrante da equipe de Lages, que mostram um alinhamento de versões para que, segundo os investigadores, a denúncia contra Curicica pelo assassinato fosse viável.

Em um áudio, Barros Pinto chega a dizer que Ferreirinha teria que se “concentrar” para narrar uma versão dos fatos previamente combinada. “O que você soube do Rafael Pacheco a partir da tua ida na casa dele [Orlando Curicica] lá, que ele te chamou, te obrigou a ir né, e a partir daí você passou a trabalhar com ele, que foi obrigado a trabalhar com ele. Mas sem se vitimizar, sem se vitimizar, aquela coisa que a gente já conversou tá, então se concentra nesse sentido”, diz a transcrição de um áudio enviado ao ex-policial militar antes do testemunho.

Com a versão, Lages e sua equipe se dirigiram ao presídio onde Curicica estava preso, e apresentaram a denúncia. A ideia, segundo o PF, era conseguir uma confissão que indicasse a participação de Siciliano.

“Imputar o delito em tela ao então vereador Marcelo Siciliano teria o condão não só de garantir-lhes a impunidade, mas também fulminaria politicamente um dos concorrentes eleitorais da Família Brazão nos bairros da Zona Oeste carioca”, ressalta o relatório da PF.

De acordo com a corporação, o plano só não deu certo porque a então Procuradora-Geral da República à época, Raquel Dodge, requisitou à PF a abertura de inquérito visando apurar suposta interferência de autoridades policiais responsáveis pelo caso na tentativa de embaraçar ou dificultar a apuração do crime envolvendo os homicídios de Marielle e Anderson.

A PF diz que, mesmo com o Ministério Público e o Poder Judiciário tendo identificado o movimento dos dois, Lages afirmou em depoimento ao MP que Ferreirinha “jura de pé junto” que foi torturado ao ser interrogado pela superitendência da PF no Rio de Janeiro, o que o faz ainda acreditar na hipótese de que o mando dos homicídios esteja atrelado a Siciliano e Curicica.

Segundo a PF, a tentativa de Rivaldo e Lages de imputar os crimes a terceiros “foi o ápice das diligências obstrutórias emanadas pela dupla”. A instituição afirma que “Giniton foi escalado para obstruir os trabalhos investigativos e o fez com esmero”. Além disso, de acordo com a PF, “os trabalhos de sabotagem se iniciaram no momento mais sensível da apuração do crime, as horas de ouro, o que ensejou a perda de elementos de convicção importantes para a sua resolução a contento como, por exemplo, a captação das imagens dos circuitos internos de televisão dos imóveis adjacentes ao local do crime”.

“A orquestração dessa deflexão na investigação, a origem da chegada de Rodrigo Jorge Ferreira […], bem como os exemplos de impropriedades perpetradas pela equipe da DHC [Delegacia de Homicídios da Capital] durante os meses que sucederam os fatos, são indícios robustos de que Giniton Lages cumpriu à risca a missão que lhe fora outorgada, sobretudo por suas condutas terem sufocado diversos meios eficazes de obtenção de prova que, agora, não mais podem ser alcançados pela persecução penal”, diz a corporação.

Tribuna Livre, com informações da Polícia Federal.

Deixe um comentário

Leia também
Da Papuda à sede da PF: saiba os locais onde Bolsonaro pode cumprir pena
Da Papuda à sede da PF: saiba os locais onde Bolsonaro pode cumprir pena
Carlos Bolsonaro manda recado para Mauro Cid após condenação do pai
Carlos Bolsonaro manda recado para Mauro Cid após condenação do pai
Após operação da PF, CPI mantém cronograma e pedirá ao STF para ouvir 'Careca do INSS' e Camisotti
Após operação da PF, CPI mantém cronograma e pedirá ao STF para ouvir 'Careca do INSS' e Camisotti
Após ataque ao STF, Tarcísio voltará a Brasília para articular anistia
Após ataque ao STF, Tarcísio voltará a Brasília para articular anistia
Família Moraes compra mansão por R$ 12 milhões em Brasília
Família Moraes compra mansão por R$ 12 milhões em Brasília
Marinheiro é atropelado por motoqueiro do Exército em desfile de 7 de Setembro
Marinheiro é atropelado por motoqueiro do Exército em desfile de 7 de Setembro
Em ato na Paulista, Tarcísio condena "tirania" de Moraes e defende anistia
Em ato na Paulista, Tarcísio condena "tirania" de Moraes e defende anistia
7 de setembro: apoiadores de Bolsonaro pedem anistia irrestrita em manifestação
7 de setembro: apoiadores de Bolsonaro pedem anistia irrestrita em manifestação
Ex-deputado estadual do RJ é preso por ligação com o Comando Vermelho
Ex-deputado estadual do RJ é preso por ligação com o Comando Vermelho
Empresa que prestava serviço aos Correios é investigada por elo ao PCC
Empresa que prestava serviço aos Correios é investigada por elo ao PCC
Anvisa proíbe anel que promete medir glicose sem agulha
Anvisa proíbe anel que promete medir glicose sem agulha
Centrão quer poder para Congresso demitir comando do BC
Centrão quer poder para Congresso demitir comando do BC

Palhaços levam acolhimento e humanização à UBS 1 da Estrutural

Projeto RiSUS promove integração entre arte, saúde e comunidade Alexsandro dos Santos, 32 anos, aguardava atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS) 1 da Estrutural quando foi surpreendido. Entre risadas e brincadeiras, os palhaços Dikeka, Sansão e Severina entraram na UBS com muita graça e transformaram a espera em um

Leia mais...

Ceilândia recebe ações de manutenção urbana

Mutirão teve retirada de entulhos, recuperação de vias e implantação de estacionamentos Ceilândia recebeu um mutirão com diversas ações de manutenção urbana. Desde segunda-feira (8), as equipes estiveram em diversos pontos da cidade para atender às demandas da comunidade. Um dos principais destaques foi a remoção de 47 toneladas de

Leia mais...

Irmãos são presos por homicídio de caseiro em Silvânia

Suspeitos confessaram o crime e foram autuados em flagrante A Polícia Civil de Goiás, por meio da Delegacia de Silvânia, em ação conjunta com a Polícia Militar, prendeu dois irmãos suspeitos de envolvimento no homicídio de Cláudio Olívio Monteiro, de 53 anos, ocorrido na noite de domingo (7), no bairro

Leia mais...

A sua privacidade é importante para o Tribuna Livre Brasil. Nossa política de privacidade visa garantir a transparência e segurança no tratamento de seus dados pessoais.