A juíza Gabriela Hardt, da 9ª Vara Federal de
Curitiba, tirou hoje o sigilo de documentos da operação que prendeu ontem nove
membros do PCC (Primeiro Comando da Capital). O grupo é suspeito de planejar
atentados contra autoridades.
Juíza Gabriela HardtImagem: Enéas Gomez/Divulgação
O que aconteceu?
Hardt retirou o sigilo de quatro documentos:
– O pedido da PF para executar prisões e buscas e
apreensões contra o grupo,
-As duas decisões da juíza, autorizando as prisões (parte
1 e parte 2) e as buscas (parte 1 e parte 2)
– O termo da audiência de custódia com os presos,
realizada na tarde desta quinta (23).
Segundo as investigações da PF (Polícia Federal), um dos
alvos do PCC era o senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Hoje, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que a aparição do nome dele na operação
seria uma “armação” do ex-ministro, pelo fato de as medidas terem
sido autorizadas por Hardt.
Isso porque Hardt foi, à época da operação Lava Jato, a
juíza substituta de Moro nos processos que corriam no Paraná. Foi ela, por
exemplo, que condenou Lula a 12 anos e 1 mês de prisão no processo referente ao
sítio de Atibaia.
O que se sabe sobre o caso
PCC investiu quase R$ 3 milhões em ataque contra Moro e
agentes públicos. O UOL apurou com fontes ligadas à investigação o valor
investido em veículos blindados, armas e chácaras na região metropolitana de
Curitiba.
Moro virou alvo por decisão que impediu visitas íntimas a
presos. A decisão atingiu internos do sistema prisional federal, onde estão as
lideranças do PCC.
A facção planejava ataques a outras pessoas, como o
promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo.
Suspeito saiu do presídio com missão de executar ataque.
Patric Velinton Salomão, o Forjado, foi designado pela facção para cometer os
atentados. Ele está foragido e é procurado pela PF.
Lula x Moro
Um dia antes da prisão de membros da facção, Lula havia
falado em ter pensando em se vingar do ex-juiz entre 2018 e 2019. Ontem, depois
que a operação foi deflagrada, o senador disse lamentar o comentário do
mandatário.
A troca de farpas continuou: Lula afirmou hoje que a
suposta armação era “visível”, apesar de dizer que não queria
“ficar atacando ninguém sem ter provas”. O presidente estava no
Complexo Naval do Itaguaí, no Rio de Janeiro.
Ele também citou a juíza (Gabriela Hardt) que expediu os
mandados de ontem e disse que iria buscar entender a sentença…
“Fiquei sabendo que ela não estava nem em atividade
quando deu o parecer para ele. Eu vou pesquisar e saber o porquê da sentença.
Não vou ficar atacando ninguém sem ter provas e, se for mais uma armação, ele
vai ficar mais desmascarado ainda. Não sei o que vai fazer da vida se continuar
mentindo do jeito que está mentindo.
Lula, em alusão a Sergio Moro.
Em seguida, Moro repudiou novamente a fala de Lula:
O ex-juiz disse à CNN Brasil ter virado alvo da
organização criminosa por seu trabalho como “agente da lei” e afirmou
ser inadmissível que Lula trate a situação “dando risada”. Depois, o
senador divulgou um vídeo com declarações sobre o assunto.
O senador cobrou seriedade: “Se algo acontecer com
minha família, a responsabilidade é desse presidente, que deu risada”,
afirmou. “Então, pergunto ao senhor presidente: o senhor não tem decência?
Não tem vergonha? Não respeita o cargo ou o sofrimento de um agente da
lei?”.
“Não posso admitir que o presidente, o maior magistrado
do país, trate um assunto dessa gravidade dando risada e mentindo à população
de que seria uma armação. Eu recebi a investigação das autoridades, do próprio
ministro da Justiça dele. Sempre o tratei com humanidade enquanto juiz, fiz o
meu papel, nunca tratei isso de forma pessoal e isso tem meu repúdio”