“O que eu quero para o Brasil, quero para a
Venezuela”, disse o presidente Lula, após reunião na Argentina, emendando
“não querer inimizade com nenhum país“
(crédito: Luis ROBAYO/AFP)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu
nesta segunda-feira (23/1) que o “problema” da Venezuela será resolvido por
meio do diálogo e que o país terá tratamento normal. Lula tinha encontro
marcado com o presidente Nicolás Maduro hoje, mas a Venezuela cancelou a agenda
por questões de segurança.
O chefe do Executivo brasileiro pregou que o país
restabelecerá relações diplomáticas com a Venezuela. “A gente vai resolver
com diálogo, não com bloqueio. A gente vai resolver com diálogo e não com
ameaça de ocupação. A gente vai resolver com diálogo e não com ofensas
pessoais”, disse o chefe do Executivo brasileiro.
“Nós queremos que a Venezuela tenha embaixada no Brasil,
que o Brasil tenha embaixada na Venezuela e vamos restabelecer a relação
civilizada entre dois estados autônomos, livres e independentes”, completou.
Lula já enviou a Caracas uma missão diplomática para dar início às providências
para a reabertura da Embaixada do Brasil no país, fechada desde março de 2020,
por iniciativa do governo anterior.
O petista ressaltou “querer para o Brasil o mesmo que ele
deseja para a Venezuela”. “Nós já conseguimos uma vez, vamos conseguir outra
vez, e a Venezuela vai voltar a ser tratada normalmente como todos os países
querem ser tratados. O que eu quero para o Brasil, quero para a Venezuela:
respeito à soberania e a autodeterminação do meu povo.”
Lula ainda criticou o ex-presidente interino da Venezuela
Juan Guaidó. “Eu vejo muita gente pedindo compreensão ao Maduro. Essas
pessoas se esquecem que eles fizeram uma coisa abominável para a democracia,
que foi reconhecer um cara que não era presidente, não foi eleito, que foi o
Guaidó. Esse cidadão ficou vários meses exercendo o papel de presidente sem ser
o presidente. E eu fico me perguntando: quem é que está errado? Temos que ter
duas coisas na cabeça: permitir que a autodeterminação dos povos fosse
respeitada em todos os países. Da mesma forma que eu sou contra a ocupação
territorial que a Rússia fez com a Ucrânia, sou contra muita ingerência no
processo da Venezuela”, disse. “Espero que Venezuela e Cuba façam aquilo
que quiserem e nós não temos que nos meter.”
“Normalidade diplomática”
Questionado sobre uma agenda prevista para hoje com
Maduro na Argentina, cancelada horas antes, disse que a conversa deverá ficar
para “outra oportunidade”. Lula falou também sobre a incerteza da presença do
líder venezuelano na reunião da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e
Caribenhos (Celac), que ocorrerá amanhã. Ele destacou ainda que o Brasil “não
quer inimizade com nenhum país” e espera que dentro de dois meses as duas
nações tenham resolvido a “normalidade diplomática”.
“Não sei se ele vai vir. Tinha uma audiência com ele às
16h, mas fui informado que talvez ele não venha, vai ficar para outra
oportunidade. Espero que, em dois meses, a gente tenha resolvido a normalidade
diplomática com a Venezuela, que em poucos meses esteja se recuperando
economicamente, que o povo venezuelano que está fora da Venezuela possa voltar
para a Venezuela e o povo brasielrio que está na Venezuela possa voltar ao
Brasil. Mas o concreto é que o Brasil não quer inimizade com nenhum país e, se
pudermos construir acordos dentro de cada país, vamos ajudar. O Brasil tem um
papel importante a jogar nisso.”
Sobre Cuba, defendeu o fim dos bloqueios econômicos.
“Espero que logo Cuba possa voltar a um processo de normalidade, que se acabe o
bloqueio a Cuba, que já dura mais de 60 anos sem nenhuma necessidade. Os
cubanos não querem copiar o modelo brasieliro, eles não querem copiar o modelo
americano. Eles querem fazer o modelo deles e quem é que tem alguma coisa a ver
com isso? O Brasil e os países que compõem a Celac têm que tratar a Venezuela e
Cuba com muito carinho.”
As declarações ocorreram durante coletiva conjunta
realizada em Buenos Aires, na Argentina, ao lado do presidente Alberto
Fernández. Lula também pediu que o país vizinho não deixe a extrema-direita
chegue à presidência.
“Espero que a Argentina não permita que a extrema-direita
ganhe as eleições porque a extrema-direita não deu certo em nenhum país que
governou. Espero que o povo argentino, em sua inteligência, não permita que
ocorra um desastre político eleitoral aqui na Argentina”, concluiu.