A última vez que a população da China diminuiu foi em 1960,
quando o país enfrentou a pior fome de sua história moderna, causada pelo
Grande Salto para Frente, a política agrícola de Mao Tsé-Tung
Agence France-Presse
(crédito: Nahima Maciel/CB/D.A Press)
Pela primeira vez em mais de seis décadas, a população da
China diminuiu no ano passado, conforme dados oficiais divulgados nesta
terça-feira (17), apontando para uma crise demográfica no país mais populoso do
mundo.
No final de 2022, a população nacional da China era de
1,4 bilhão, informou o Escritório Nacional de Estatísticas (ONE) em Pequim,
especificando que é “uma diminuição de 850 mil desde o final de
2021”.
O ONE especificou que o número de nascimentos foi de 9,56
milhões, e de de mortes, 10,41 milhões.
A taxa de natalidade do país caiu para níveis históricos
em meio ao envelhecimento da população, um declínio acelerado que, segundo
analistas, pode prejudicar o crescimento econômico e pressionar as finanças
públicas.
A última vez que a população da China diminuiu foi em
1960, quando o país enfrentou a pior fome de sua história moderna, causada pelo
Grande Salto para Frente, a política agrícola de Mao Tsé-Tung.
Em 2016, a China suspendeu sua rígida política do filho
único, imposta na década de 1980, devido a temores de superpopulação. Em 2021,
começou a permitir que os casais tivessem três filhos.
Essas mudanças de política não conseguiram, porém, conter
o declínio demográfico.
“A população certamente continuará diminuindo nos
próximos anos”, disse Zhiwei Zhang, da Pinpoint Asset Management.Bônus por
filhos
“A China não poderá depender do dividendo
demográfico como motor estrutural do crescimento econômico”, afirmou
Zhang. “O crescimento econômico precisará depender mais do crescimento da
produtividade, que é impulsionado por políticas governamentais”.
As notícias sobre o declínio da população rapidamente se
espalharam nas redes sociais chinesas, com algumas pessoas expressando medo
pelo futuro do país.
“Sem filhos, o Estado e a nação não têm
futuro”, escreveu um usuário da rede social Weibo, uma versão chinesa do
Twitter.
“Ter filhos é uma responsabilidade social”,
observou um conhecido “influenciador” patriótico no Weibo.
Outros destacaram o aumento acentuado do custo de vida e
as dificuldades de criar filhos na China moderna.
“Eu amo minha mãe, mas nunca serei mãe”,
comentou uma internauta.
Diante disso, muitas autoridades locais lançaram medidas
para incentivar os casais a terem filhos. A megacidade de Shenzhen, no sul, por
exemplo, oferece um bônus de nascimento e uma mesada mensal até que a criança
complete três anos.
Os chineses também estão “se acostumando com
famílias pequenas por causa de décadas da política do filho único”, disse
à AFP Xiujian Peng, pesquisadora da Universidade de Victoria, na Austrália.
“O governo chinês deve encontrar políticas eficazes
para promover a natalidade, caso contrário, o nível de fecundidade continuará
caindo”, acrescentou.
O demógrafo independente He Yafu aponta ainda para a
“queda do número de mulheres em idade reprodutiva, que caiu cinco milhões
por ano entre 2016 e 2021” como consequência do envelhecimento da
população.
A população chinesa pode diminuir 1,1% ao ano, em média,
de acordo com um estudo da Academia de Ciências Sociais de Xangai.
A China poderá ter menos de 587 milhões de habitantes no
ano 2100, menos da metade hoje, segundo as projeções mais pessimistas da equipe
de demógrafos.
Além disso, a Índia pode substituir a China como o país
mais populoso do mundo este ano, de acordo com a ONU.
“Uma população cada vez menor e mais velha será uma
verdadeira preocupação para a China”, alertou Peng. “Isso terá um
impacto profundo na economia chinesa de agora até os anos 2100”,
acrescentou.