Dick Barton, que mergulhou até os destroços do Titanic por 22 vezes, também diz que batidas detectadas por sonar podem ser “qualquer coisa”, inclusive cabos que passam pelo fundo do mar
A embarcação está desaparecida desde domingo (18/6), pouco depois que foi lançada no mar com um condutor e quatro tripulantes rumo aos destroços da embarcação que naufragou em 1912 matando 1,5 mil pessoas.
Aos 63 anos, o britânico Dick Barton acumula 22 mergulhos até os destroços do Titanic. A primeira descida até os restos do navio ocorreu em 1993, apenas oito anos depois da descoberta da fuselagem do Titanic. Ele explicou que, em situações de emergência como a enfrentada pelo veículo submersível Titan, a tripulação deve procurar manter a calma e reduzir as atividades para poupar oxigênio.
“É fácil dizer isso, pois deve ser aterrorizante lá embaixo sob essas circunstâncias”, disse. O submersível Titan está desaparecido desde domingo ao iniciar a descida até 3.800m de profundidade no Atlântico, levando quatro turistas, três deles bilionários, além do dono da OceanGate, empresa responsável pela viagem.
Os bilhetes custaram cerca de US$ 250 mil (ou R$ 1,1 milhão). Em tese, o suprimento de oxigênio do Titan terminará nesta quinta-feira (22), às 8h (hora de Brasília). Confira abaixo a íntegra da entrevista ao Correio.
Como o senhor vê o fato de um avião canadense ter detectado “batidas” no fundo do mar, na região do naufrágio?
Quaisquer sons detectados no fundo do mar pelo satélite GFO ou por outros sistemas de audição podem ser facilmente confundidos. Os oceanos São ambientes movimentados, há muita atividade no fundo do mar. Por exemplo, a vida marinha, é claro, mas também cabos ultramarinos e embarcações. O som viaja muito rapidamente sob a água.
Com base na sua experiência, o senhor acredita que a tripulação do Titan tem condições de sobreviver ante a possível falta de energia elétrica e a perda de comunicação com a superfície?
Eu prefiro não fazer conjecturas sobre as condições de sobrevivência da tripulação do Titan. A questão, agora, diz respeito ao tempo. Infelizmente, o submersível perdeu contato com a superfície com apenas 1 hora e 45 minutos de mergulho. Com base no perfil do mergulho e na trajetória, isso ocorreu a 2.000m de profundidade, aproximadamente. A mais de mil metros de profundidade, tudo ali é escuridão. Mergulhos convencionais e comerciais não podem ser realizados naquela região a mais de 1.100m de profundidade. É uma área pura e totalmente perigosa.
Em uma situação de emergência como a enfrentada pelo Titan, como a tripulação deve se comportar para ampliar as chances de sobrevivência?
Nessas circunstâncias, a única forma de você administrar suas chances de sobrevivência é permanecer calmo o tanto quanto possível e reduzir ao suas atividades. É fácil dizer isso, pois deve ser aterrorizante lá embaixo sob essas circunstâncias. O problema é que não sabemos onde o Titan está. Se ele está no assoalho do oceano e em uma região passível de ser localizado. A principal preocupação é se o sinal do sonar ainda está sendo emitido, o que ajudaria a localizar o Titan.
O senhor pode falar um pouco sobre sua experiência com o Titanic?
Eu construí minha carreira na Titanic Incorporated, que está na posição de guardiã dos destroços do Titanic. Eu mergulhei até os restos do Titanic por 22 vezes com um instituto de pesquisa francês. Usamos dois submersíveis russos, também utilizados pelo cineasta James Cameron para gravar tomadas de Titanic e cenas para um documentário.
Em entrevista exclusiva ao Correio, o primeiro britânico a mergulhar até o Titanic, Dick Barton, afirmou que o som de “batidas” detectado por uma aeronave canadense durante buscas pelo submersível Titan, da OceanGate, pode ser qualquer coisa.
(crédito: Arquivo pessoal)