13/09/2025

Lula quer que Campos Neto vaze do BC

 Ele fará de tudo para que a autoridade monetária saia ou
seja saída. Aposto em Lara Resende como substituto. Sinal verde para mais
gastança


Metrópoles- Por Mario Sabino

Os violentos ataques de Lula ao presidente do Banco
Central, Roberto Campos Neto, por causa da Selic a 13,75%, são coordenados com
a cúpula do PT, dos petistas nas redações dos grandes jornais, dos blogs
petistas e da militância virtual do partido nas redes sociais. O modus operandi
é conhecido e a voz de comando é sempre do guia genial dos povos. O bombardeio
já era esperado, como antecipou Luiz Carlos Mendonça de Barros, em entrevista
ao jornalista Carlos Rydlewski, do Metrópoles, em 7 de janeiro. “O governo
caminha para um conflito com o BC”, disse ele.

Neste terceiro mandato, Lula mudou de posição: de good
cop, que assinou a Carta aos Brasileiros antes de assumir pela primeira vez a
Presidência, agora ele é o bad cop. O papel principal de bonzinho foi reservado
ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem de fazer a interlocução com o
mercado financeiro, com o empresariado em geral e com o próprio Roberto Campos
de Neto — que, assim como o ministro, integra o Conselho Monetário Nacional. É
igualmente ação coordenada. Fernando Haddad sempre fez o que Lula quis que ele
fizesse e não será agora que irá contrariar o chefe. Os outros “bonzinhos”
petistas também. 

Depois da temporada em cana, o Lula apaziguador deu lugar
ao Lula radical. Assim como o finado Itamar Franco, ele passou a guardar os
ressentimentos na geladeira. A sua nova mulher, Janja, contribui bastante para
que o presidente da República tenha soltado a franga esquerdista. Ela não
apenas frequenta reuniões presidenciais e despacha no Palácio do Planalto.
Também influi em nomeações. Credita-se a ela, por exemplo, a escolha do
advogado Manoel Caetano, que visitava Lula na cadeia, para integrar a Comissão
de Ética Pública da Presidência, publicada ontem no Diário Oficial da União.
Por último, mas não menos importante, a escalada no discurso de Lula contra os
militares foi insuflada por Janja.

Pergunta-se o que Lula, o radical, tem a ganhar com os
ataques a Roberto Campos Neto, uma vez que isso só piora as expectativas em
relação à economia brasileira. Um ponto levantado é que, se a situação piorar
nos próximos meses, e a picanha continuar rara no prato dos brasileiros, o
presidente da República poderá atribuir a culpa ao presidente do Banco Central,
que tem autonomia como autoridade monetária e mandato até o final de 2024.
Usá-lo como bode expiatório é parte da verdade. O que Lula quer mesmo, está na
cara, é que Roberto Campos Neto renuncie, para não ter de exonerar o moço que,
neste momento, tem o pior emprego do Brasil. Deixou de ser fritura para ser
assado.

Lula fará de tudo pela exoneração, caso o presidente do
Banco Central não peça o chapéu. Inclusive porque está paranoicamente
convencido de que “o cidadão”, com a Selic na casa dos dois dígitos, é um
sabotador bolsonarista do seu governo (uma falsidade, visto que, no governo de
Jair Bolsonaro, a taxa de juros foi de 2% para 12%).

A jornalista Bianca Alvarenga, do Metrópoles, cantou a
bola numa reportagem publicada em 23 de janeiro, intitulada A “brecha” que o PT
tem em mãos para tentar tirar Campos Neto do BC. A estratégia é inculpar o
presidente do Banco Central pelos sucessivos estouros da meta de inflação fora
da meta e, desse modo, abrir caminho para a sua exoneração, por ter apresentado
“comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos
do Banco Central do Brasil”. Ou seja, usar casuisticamente o que está escrito
na lei para responsabilizar Roberto Campos Neto pelos desmandos de Jair
Bolsonaro e do atual inquilino do Palácio do Planalto.

Lula quer baixar os juros por um único motivo: reeditar o
crescimento econômico baseado apenas em consumo. Fazer pobre endividar-se com
aquele “carnezinho gostoso”, para usar a expressão da empresária Luiza Trajano.
Foi o que ele fez nos seus governos anteriores, é o que deseja voltar a fazer
agora. Ele não vê mesmo aumento da inflação com problema, desde que a sua massa
de eleitores mais pobres possa adquirir uma geladeira pelo preço de duas ou
três, na ilusão de que a felicidade se compra a prestação.

Se conseguir exonerar Roberto Campos Neto ou fazer com
ele peça para sair, quem Lula colocará para presidir o Banco Central? A minha
aposta é que convidará André Lara Resende, um convertido à heterodoxa Teoria
Monetária Moderna, se é que já não convidou. André Lara Resende recusou o
Ministério do Planejamento, mas pode se sentir mais confortável para aceitar
outro convite, pelo fato de esse cargo lhe conferir autonomia. Ele toca uma
música que soa linda aos ouvidos de Lula. Em artigo publicado ontem, no jornal
Valor, veja só a coincidência, ele escreveu que o risco fiscal é “inexistente”
no Brasil, que a Selic é “injustificavelmente alta” e que a dívida pública
interna, assim como a moeda, é “um bem público indispensável ao bom
funcionamento da economia”.

É um sinal verde para mais gastança do governo, para a
diminuição da Selic e o aumento da inflação.

Boa sorte, brasileiros.

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