Proposta enviada por comissão consultiva está na Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio (Emop-RJ) aguardando viabilização e licitação. Ex-atletas lamentam fechamento do estádio
O matagal com lixo acumulado próximo à grade não lembra, nem de longe, os tempos de glamour. Construído em 1974, o Estádio de Atletismo Célio de Barros é hoje um esqueleto em meio ao Complexo do Maracanã. Fechado desde 2013, o equipamento ainda não tem data para reabrir. A obra de recuperação custaria R$ 35 milhões e teria dois anos de duração. Desde o ano passado, setores ligados ao esporte e à política vêm mobilizando-se para reconstruir as pistas e campos que já receberam nomes como Robson Caetano, Maurren Maggi, Michael Johnson, Sergei Bubka e Javier Sotomayor.
Desativado há 10 anos, estádio Célio de Barros convive com abandono e incertezas
– O Rio de Janeiro tinha o maior e melhor estádio de atletismo do país. Todo mundo queria competir no Célio de Barros. Eles destruíram um espaço que foi concebido quando o Rio era Governo Federal. Como se destrói algo grandioso como esse? Isso não entra na minha cabeça – comentou o ex-atleta Nelson Rocha dos Santos, que competiu nas Olimpíadas de Moscou 1980 e Los Angeles 1984.
Nelsinho, como é conhecido desde os tempos de corredor, é o líder da comissão consultiva do Célio de Barros, criada em 2022 por ex-atletas e dirigentes interessados na reabertura do estádio. Desde então, o grupo vem dialogando com setores da política e do esporte na tentativa de viabilizar as obras de reconstrução das pistas e campos.
Em 2019, durante o governo Wilson Witzel, o Célio de Barros chegou a ser reaberto após a colocação de uma pista de aquecimento, além das reformas da arquibancadas e auditório. Entretanto, a reabertura durou pouco e o local logo voltou a ficar fechado para a prática esportiva, servindo como hospital de campanha e posto de vacinação no início da pandemia da Covid-19.
Em meio ao fechamento do estádio, as salas internas do Célio de Barros passaram a ser ocupadas por algumas federações esportivas, associações de treinadores e programas sociais do Governo do Estado.
Uma das entidades com sede no Célio de Barros é a Federação de Atletismo do Estado do Rio (FERAt), cujo presidente, Robson Maia, também está envolvido nas tratativas pela reforma do estádio.
– O Célio de Barros tem uma representatividade muito grande, não só para mim, como para todos os atletas do Rio de Janeiro e do Brasil. O poder público do estado, quando fechou a pista, provocou um abalo muito grande no atletismo do Rio. O esporte precisa muito da volta desse equipamento – pontuou o dirigente.
Por que o Célio de Barros fechou
Localizado dentro do Complexo do Maracanã – mas fora dos poderes da concessionária que administra o estádio de futebol -, o Célio de Barros foi desativado na última grande obra do local, a qual teve o intuito de modernizar todo o entorno para a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016. A ideia inicial era utilizar a área como estacionamento para os jogos de futebol e grandes eventos. No entanto, protestos e pressão da opinião pública fizeram o então governador, Sérgio Cabral, voltar atrás.
Após a retirada da pista em 2013, o antigo estádio foi utilizado como almoxarifado das obras do Maracanã. A partir do fim da Copa do Mundo, uma parte descampada do Célio de Barros – hoje concretada, mas com muito mato – passou a ser usada como palco de eventos, festas particulares e até hospital de campanha e posto de vacinação da Covid-19.
A promessa de reabrir o estádio de atletismo é antiga. Antigo secretário de Esporte e Lazer do Rio, Marco Antônio Cabral – filho do ex-governador Sérgio Cabral – prometeu entregar o equipamento revitalizado em 2017. As obras sequer foram iniciadas.
Em 2022, foi a vez do então secretário de Esporte e Lazer do Rio, Alessandro Carracena receber a comissão consultiva e garantir que a reabertura do estádio aconteceria “em breve”. Carracena foi substituído por Rafael Picciani na virada do ano após o início do governo Cláudio Castro.
Reforma custaria R$ 35 milhões
Nos últimos meses, a comissão de esportes da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), liderada pelo deputado estadual Carlinhos BNH, comprometeu-se em ajudar a comissão consultiva na reabertura do Célio de Barros. O grupo procurou a Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio (Emop-RJ), que será a responsável pela execução da obra, avaliada inicialmente em R$ 35 milhões e com duração estimada em dois anos.
Desde então, todas as frentes vêm dialogando sobre quem arcaria com os custos da reforma. O Governo Federal também foi acionado, e a Emop-RJ já tem um projeto pré-aprovado, restando apenas definir como seria a execução do mesmo.
– Estamos visitando deputados estaduais, secretários, estamos nos encontrando com o governo federal e todos estão nos levando a crer que existem grandes possibilidades para a retomada dessas obras. As tratativas estão bem adiantadas, então só nos resta acreditar – comentou Nelsinho.
Procurados pelo ge, a Emop-RJ e a Secretaria de Esportes e Lazer do Rio confirmaram a intenção de reformar e reabrir o Célio de Barros
Fundado em 25 de outubro de 1974, o Célio de Barros ocupa uma área total de 18.714m² dentro do Complexo do Maracanã e é administrado pela Suderj (Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro). Antes de ser fechado, o estádio possuía 15.501m² de área construída, 756m² para estacionamento e 457m² de jardins. A capacidade era de 9.143 pessoas.
Pelo local passaram lendas do atletismo como Sergei Bubka e Michael Johnson, que competiram no Célio de Barros no fim dos anos 90. Palco do Meeting Internacional entre 1996 e 2001, o estádio recebeu outras competições importantes como o Troféu Adhemar Ferreira da Silva e o Troféu Brasil de Atletismo.
A resposta da Secretaria de Esportes e Lazer do RJ
O Célio de Barros é um equipamento de grande valor esportivo e histórico para a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer. A gestão está aberta ao diálogo e recebeu representantes da comissão consultiva, para debater alternativas para o local.
Vale ressaltar que o Governo do Estado, por meio da EMOP, já realizou um levantamento técnico para reforma e recuperação total do estádio, que foi aprovado pela comissão e encaminhado à Alerj, para financiamento dos recursos destinados à licitação e execução da obra.
Na condição de reaberto, para a manutenção do Célio de Barros seriam utilizados recursos do orçamento da secretaria, bem como de instrumentos de gestão, por meio de parcerias, termos de cessão de espaços internos e implantação de um calendário esportivo permanente, por exemplo.
Atualmente, estão instaladas no local as federações de Atletismo, Futsal, Handball, Liga de Futsal e a Associação dos Treinadores de Futebol.
A resposta da Emop-RJ
A EMOP-RJ executou o levantamento técnico preliminar e a estimativa de custo para reforma do Estádio Célio de Barros. Para início e execução dos serviços, é necessário ser elaborado e licitado o projeto executivo. O valor estimado das intervenções é de R$ 35 milhões. O prazo de duração das obras e reabertura do estádio é de dois anos
Estádio de Atletismo Célio de Barros tem lixo acumulado perto da grade
— Foto: Flávio Dilascio