O último título de grande expressão do São Paulo havia sido a Copa Sul-Americana, em 2012
O São Paulo, após 15 anos, é novamente dono de um título nacional.
A equipe tricolor segurou o Flamengo, na tarde de domingo (24), no Morumbi, e conquistou sua primeira Copa do Brasil. Saiu atrás, em gol de Bruno Henrique, mas buscou com Rodrigo Nestor o empate por 1 a 1 na capital paulista, suficiente após a vitória por 1 a 0 no primeiro jogo da decisão, no Maracanã, no Rio de Janeiro.
Trata-se do triunfo de maior expressão da agremiação desde o tri consecutivo no Campeonato Brasileiro, de 2006 a 2008. De lá para cá, a equipe só havia vencido uma Copa Sul-Americana (2012), torneio continental de segundo escalão, e um Campeonato Paulista (2021), disputa estadual longe da importância de outrora.
Autointitulado Soberano, o clube viveu períodos difíceis após o tricampeonato e não conseguiu manter a solidez. Aclamado por seu trabalho na presidência desde 2006, Juvenal Juvêncio foi se perpetuando no poder e já não tinha a mesma avaliação quando finalmente deixou o cargo, em 2014. Aí, as coisas pioraram bastante.
Eleito com apoio de Juvêncio, Carlos Miguel Aidar o sucedeu e durou apenas um ano e meio. Com denúncias de corrupção e pressionado por um processo de impeachment, renunciou em 2015. Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, assumiu seu posto e nele ficou até 2020, sem conquistar títulos e também questionado com ameaças de impeachment.
Julio Casares foi o escolhido para assumir a presidência no triênio 2021-2023 e logo fez algo que os dois antecessores não conseguiram: levantou um troféu. O título do Paulista foi bastante festejado, mas não maquiou o fato de que o clube, com problemas financeiros, ainda tinha dificuldade para manter-se competitivo diante de rivais mais bem estruturados.
A sequência foi de resultados ruins, e o presidente se defendia dizendo que tentava colocar a casa em ordem. Ao fim da temporada passada, celebrava ter tirado o clube da UTI. A dívida, pela primeira vez, em alguns anos, ficou estacionada, na casa dos R$ 700 milhões. O faturamento foi de R$ 660 milhões.
Agora, Casares trabalha para se reeleger, algo possível graças a uma mudança no estatuto do clube, em 2022, muito criticada por opositores. A conquista da Copa do Brasil e seu prêmio total de R$ 88,7 milhões fortalecem o dirigente, que já está em campanha, na qual valoriza as decisões tomadas neste exercício.
Uma delas foi a contratação do técnico Dorival Júnior, que substituiu o demitido Rogério Ceni em abril e ofereceu estabilidade ao time. Com seu jeito sereno, repetiu diversas vezes a um grupo questionado e sem estrelas -até a chegada de Lucas, outro trunfo do presidente- que ele era capaz de vencer.
Adversário na decisão, o Flamengo teve trajetória inversa no ano. Mesmo campeão da própria Copa do Brasil e da Copa Libertadores no fim de 2022, o clube decidiu demitir o agora algoz Dorival. Com o português Vítor Pereira e com o argentino Jorge Sampaoli, foi da certeza de conquistas ao primeiro ano sem um troféu desde 2018.
O clima foi ficando cada vez mais pesado, até que começaram a surgir múltiplos casos de agressão. O preparador físico Pablo Fernández deu um soco na cara do atacante Pedro e foi demitido. O meio-campista Gerson, em treino, quebrou o nariz do lateral Varela. O dirigente Marcos Braz se envolveu em briga com torcedor em shopping, e o boletim de ocorrência registrou até “mordida na virilha”.
Nesse cenário, não surpreendeu que o São Paulo tenha chegado à final com maior tranquilidade. No jogo de ida, no Maracanã, a formação tricolor executou um plano de jogo claro e se impôs sobre um adversário desorganizado, sem um padrão claro, fruto de mudanças constantes na escalação. Calleri, de cabeça, definiu o triunfo por 1 a 0.
A segunda partida, no Morumbi, foi tensa. Em desvantagem, o Flamengo esteve mais presente no ataque na etapa inicial e teve a primeira chance logo aos 30 segundos. Pedro parou em Rafael, assim como Gerson, em outra oportunidade clara. Aos 44 minutos, Rafael fez mais uma ótima defesa, em chute de Pulgar, mas a bola tocou na trave e em Bruno Henrique antes de entrar.
Para delírio do público que pagou caríssimo para estar no Morumbi, o São Paulo achou o empate ainda no primeiro tempo, nos acréscimos, em cobrança de falta. Rossi saiu de soco após a batida de Wellington Rato, mas nada pôde fazer quando Rodrigo Nestor pegou o rebote, fora da área, e acertou chute forte no canto esquerdo.
No segundo tempo, não houve grandes oportunidades. O Flamengo buscou o ataque, e Sampaoli deu suas cartadas, como a entrada de Gabigol, reserva na partida derradeira. O São Paulo soube controlar o ímpeto do adversário, no entanto, e pôde celebrar seu primeiro título nacional e uma década e meia.
SÃO PAULO Rafael, Rafinha, Arboleda (Diego Costa), Beraldo e Caio Paulista (Wellington); Pablo Maia, Alisson (Gabriel Neves), Rodrigo Nestor (Luciano), Wellington Rato (Michel Araújo) e Lucas Moura; Calleri.
FLAMENGO
Rossi, Wesley, Fabrício Bruno, Léo Pereira e Ayrton Lucas; Pulgar, Thiago Maia (Luiz Araújo), Gerson (Victor Hugo) e Arrascaeta (Everton Ribeiro); Pedro (Gabigol) e Bruno Henrique. Técnico: Jorge Sampaoli.
Estádio: Morumbi, em São Paulo (SP)
Público: 63.077 pagantes
Renda: R$ 24.520.800,00
Árbitro: Braulio da Silva Machado (Fifa/SC)
Assistentes: Bruno Raphael Pires (Fifa/GO) e Bruno Boschilia (Fifa/PR)
VAR: Wagner Reway (Fifa/PB)
Cartões amarelos: Alisson, Pablo Maia, Rafinha, Gabriel Neves (SÃO); Léo Pereira (FLA)
Cartão vermelho: Gabriel Neves (SÃO)
Gols: Bruno Henrique (FLA), aos 44′, e Rodrigo Nestor (SÃO), aos 49’/1ºT
Foto: Iago Rodrigues – Twitter Copa do Brasil
Rodrigo Nestor comemora gol de empate do São Paulo na final da Copa do Brasil.