Nota do Itamaraty, que foi repudiada pelo regime venezuelano, ocorre após repetidas violações do Acordo de Barbados, como perseguições e prisões de opositores.
Demorou muito para o governo brasileiro questionar o veto do regime venezuelano à principal força de oposição a Nicolás Maduro nas eleições programadas para 28 de julho.
Na primeira crítica ao país caribenho na gestão Lula, o Itamaraty manifestou preocupação com o fato de Caracas agir “de forma não compatível com o Acordo de Barbados”. Recebeu como resposta o repúdio do regime, na acusação de ingerência em assuntos internos e na comparação com os termos ditados pelos EUA.
Resta saber qual será a extensão desta repreensão de Lula a Maduro, que demonstra desprezo pela atuação do Brasil.
Repetidas violações ao Acordo de Barbados, firmado em outubro passado entre o presidente-ditador e a oposição da Venezuela, vêm ocorrendo desde então, sem surpresas e sob as vistas do governo brasileiro, que ajudou a mediar o pacto.
A nota do Brasil sequer cita as perseguições a críticos do regime e mais de 30 prisões de opositores, que escalaram desde o início do ano, sob a alegação, sem provas, de participarem de cinco supostos complôs para derrubar o regime ou assassinar Maduro. Quando o governo brasileiro se manifestou, o processo eleitoral caótico já estava dominado pelo regime.
Nove dos encarcerados estão diretamente ligados à campanha de María Corina Machado, que foi impedida de participar do pleito. Seis dirigentes de seu partido se refugiaram na sede da embaixada argentina em Caracas, de acordo com jornais argentinos, onde os chavistas mandaram cortar a energia elétrica.
Funcionários do escritório de Direitos Humanos da ONU foram expulsos da Venezuela por ordem do regime.
Maduro repete sempre a ladainha de que na Venezuela haverá eleições “com sol, chuva ou relâmpagos”, mas copia os modelos de Nicarágua e Rússia, afastando seus concorrentes do pleito.
Os candidatos que tiveram permissão para inscrever-se no Conselho Nacional Eleitoral não representam qualquer desafio ao comandante do país, que, segundo as pesquisas independentes, tem apenas 20% das intenções de voto.
O controle do governo e a sua interferência embolou o processo eleitoral e, como em outros pleitos, causou fricções entre a oposição.
A entrada do candidato opositor Manuel Rosales, na última hora, gerou desconfiança. Criticado por adversários de pactuar com o regime, ele alegou que só se inscreveu porque a professora Corina Yoris, apontada como substituta de María Corina Machado, não conseguiu efetuar sua candidatura e os opositores de Maduro não poderiam ficar sem espaço.
“Não venho substituir ninguém, não venho tirar a liderança de ninguém, não venho separar ninguém, venho de braços abertos para reconstruir a Venezuela”, justificou.
Após o encerramento do prazo, o órgão eleitoral aceitou a inscrição de um “candidato-tampão” da Plataforma Unitária Democrática, que reúne dez partidos de oposição. Em vez de Yoris, entrou o também desconhecido Edmundo González Urrutia, ex-embaixador da Venezuela na Argentina.
Nesse ambiente turbulento, a esperança da coalizão liderada por María Corina Machado é tentar substituir o candidato por outro, já em abril ou até dez dias antes das eleições, conforme prevê a legislação eleitoral. Mas, como tudo na Venezuela, a lei está sob o comando de Maduro.
Tribuna Livre, com informações do G1