Voto secreto é sempre uma fonte de surpresas
O domingo que antecedeu as eleições de amanhã para
presidentes da Câmara e do Senado foi de muitas reuniões sigilosas em casas e
apartamentos de Brasília e de troca de longos telefonemas.
É fatura liquidada a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) na
Câmara, e praticamente certa a de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no Senado. Mas o
voto secreto é uma fonte inesgotável de surpresas.
O Orçamento Secreto, que Lira soube administrar tão bem
nos últimos dois anos, deverá fazer do escrutínio na Câmara o que nunca se viu
antes: uma espécie de eleição por aclamação.
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) enfrentará Lira para
marcar posição. Ali, disputa de verdade só existirá para a ocupação de
determinados cargos na Mesa da Câmara.
Emoção, se houver alguma, estará reservada para o embate
a ser travado entre Pacheco e Rogério Marinho (PL-RN), o candidato bolsonarista
à presidência do Senado.
São 81 os senadores. Se todos comparecerem e votarem em
um dos candidatos, elege-se o que obtiver 41 ou mais votos. Na eleição de 2019,
um senador votou duas vezes. Nunca se soube quem foi.
No QG das candidaturas de Pacheco e Marinho, admite-se
que um grupo de 10 a 15 senadores poderá mudar de lado até o último momento. A
ser verdade, a traição é que decidirá quem será eleito.
“O voto secreto dá
uma vontade danada de trair”, disse certa vez Tancredo Neves, que se elegeu
presidente da República em 1985 pelo MDB. Traído pela saúde, morreu sem tomar
posse.
Para Lira, a reeleição de Pacheco não o incomoda, mas a
de Marinho seria melhor. O presidente do Senado é quem preside o Congresso. Lira
e Marinho apoiaram Bolsonaro, que os apoiou.
Lula está conformado com a reeleição de Lira, mas no
Senado apoia a de Pacheco. No Senado, por exemplo, há projetos que reduzem os
poderes do Supremo Tribunal Federal.
Um desses projetos estabelece mandato de 7 ou 8 anos para
ministros do Supremo. Hoje, um ministro só se aposenta obrigatoriamente quando
completa 75 anos de idade.
Depende do Senado a aprovação de nomes indicados pelo
presidente da República para tribunais superiores. Este ano, Lula indicará os substitutos
de Ricardo Lewandowski e de Rosa Weber.
Cabe também ao Senado votar a abertura de processos de
impeachment contra ministros do Supremo e do Tribunal Superior Eleitoral. É por
isso que Bolsonaro quer eleger Marinho.
Nos seus primeiros 30 dias, o governo Lula sobreviveu a
uma tentativa de golpe de Estado. Começará para valer só quando as novas
direções da Câmara e do Senado forem eleitas.
Fonte: Metrópoles