Oficialmente, a pauta é a modernização das Forças Armadas,
mas Lula deve falar sobre a despolitização das três instituições e os atos
golpistas em 8 de janeiro
(crédito: Ricardo Stuckert/Divulgação)
Em meio à tensão entre militares e o governo, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reunirá hoje, às 10h, no Palácio
do Planalto, com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e com os
comandantes do Exército, general Júlio César de Arruda; da Marinha, almirante
Marcos Sampaio Olsen; e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz
Damasceno.
Oficialmente, a pauta é a modernização das Forças
Armadas, mas Lula deve falar sobre a despolitização das três instituições e os
atos golpistas em 8 de janeiro.
O entendimento do presidente e de ministros próximos é
que há necessidade de pacificar a relação com as Forças Armadas, apesar da
participação de militares — por omissão ou conivência — nos atos terroristas.
Há relatos, por exemplo, de membros do Batalhão da Guarda Presidencial que
tentaram impedir a prisão de bolsonaristas que invadiram o Palácio do Planalto.
“Não quero ter problemas com as Forças, não quero que eles tenham
problemas comigo. Quero que a gente volte à normalidade. As pessoas estão aí
para cumprir suas funções, e não para fazer política”, enfatizou Lula, na
semana passada.
O clima, porém, é tenso, porque Lula já admitiu, mais de
uma vez, não confiar em parte dos militares. Na entrevista que deu à Globonews,
na quarta-feira, o presidente foi categórico ao afirmar que “todos que
participaram do ato golpista serão punidos”. “Todos. Não importa a
patente, não importa a Força de que ele participe.”
Ele também frisou que “quem quiser fazer política,
tire a farda, renuncie ao seu cargo, crie um partido político e vá fazer
política”. E disse que os serviços de inteligência do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI), da Agência Brasileira da Inteligência (Abin) e
de Exército, Marinha e Aeronáutica não serviram para avisá-lo que a
manifestação bolsonarista poderia resultar no vandalismo que ocorreu no dia 8
de janeiro. O presidente ainda repetiu que as portas do Palácio do Planalto
foram abertas para os golpistas deliberadamente.
Reação
As críticas dele à caserna provocaram reação. O general
da reserva Sérgio Etchegoyen, ministro do GSI durante o governo Michel Temer,
declarou que “um presidente da República, comandante supremo das Forças
Armadas, que vai à imprensa dizer que não confia nas suas Forças Armadas, sabe,
desde já, que nenhum general vai convocar uma coletiva para responder à ofensa.
Então, isso é um ato de profunda covardia”, disparou.
Também fez azedar mais as relações a série de dispensas
de militares feita por Lula. Ele exonerou, até a noite de ontem, um total de 56
integrantes das Forças Armadas que atuavam no Palácio do Planalto, sendo 13 do
GSI, e nas residências oficiais da Presidência, o Palácio da Alvorada e a
Granja do Torto.
Do lado do governo, as exonerações foram normalizadas. O
ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, disse, na terça-feira, que as mudanças
são comuns. “As trocas de assessores, que são cargos comissionados, estão
ocorrendo em todos os ministérios, e elas ocorrerão independentemente de serem
militares ou civis. Vocês verão essas trocas mais intensas a partir do dia 23,
quando roda a chave no sistema para que os novos ministérios passem a existir
nos sistemas eletrônicos, nos sistemas digitais do governo. Portanto, o grosso
das nomeações, das exonerações, será feito a partir do dia 23 até o final do
mês”, ressaltou.
Segundo Rui Costa, “não se trata de confiança”.
“Mesmo dentro das áreas militares nós trocamos comandantes. É natural que
todos os outros assessores, mesmo dentro das Forças Armadas, haja um rodízio,
para dar oportunidade a outros militares, até porque outras pessoas têm
capacidade técnica para poderem exercer esses cargos. Não tem nenhuma novidade
ou mistério”, acrescentou.
Ontem, questionado pelo Correio sobre a avaliação que faz
das investigações a respeito dos atos terroristas, Rui Costa respondeu que os
trabalhos estão seguindo seu curso normal e que “chegarão aos
culpados”.