A organização não governamental (ONG) encontrou as escavadeiras
em garimpos ilegais nas terras indígenas (TI) Yanomami, Kayapó e Munduruku,
entre os anos de 2021 e 2023
A organização não governamental (ONG) Greenpeace Brasil
encontrou 176 escavadeiras em garimpos ilegais nas terras indígenas (TI)
Yanomami, Kayapó e Munduruku, entre os anos de 2021 e 2023. Conforme consta do
relatório Parem As Máquinas! Por Uma Amazônia Livre de Garimpo , divulgado na
quarta-feira (12), 75 veículos (42,6% do total), são da marca Hyundai HCE
Brasil.
Elaborado com contribuições da equipe da Greenpeace do
leste asiático, o documento destaca que cada máquina pode custar mais de R$ 700
mil e representa um ótimo investimento, porque faz em apenas um dia o que três
pessoas fazem em 40. Segundo a ONG, a maior frota de escavadeiras está na TI
Kayapó, que é alvo de disputas por parte de madeireiros e da siderurgia.
Em 35 anos, a mineração ilegal cresceu 1.217% em terras
indígenas da Amazônia Legal, revela estudo do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) e da Universidade do Sul do Alabama, dos Estados Unidos.
Especialistas apontam constantemente a relação entre a
atividade do setor mineral e o desmatamento, e os números confirmam o fato. No
intervalo entre outubro de 2018 e dezembro de 2022, por exemplo, o desmatamento
resultante do garimpo ilegal na TI Yanomami subiu 309%, de acordo com
levantamento elaborado pela Hutukara Associação Yanomami. Em dezembro de 2022,
a área devastada era de 5.053,82 hectares, ante 1.236 hectares detectados no
início do monitoramento.
Um dos aspectos que surgem em meio às discussões que
permeiam o relatório diz respeito ao deslocamento das escavadeiras. Para o
Greenpeace, é possível rastrear as máquinas. No caso da Hyundai HCE Brasil, a
ONG informa que dispõe de um sistema de gerenciamento remoto, chamado Hi Mate,
que utiliza GPS para coletar dados. A ferramenta também seria capaz de emitir
um comando para interromper o funcionamento das máquinas. E é isso que a ONG
cobra das empresas fabricantes das escavadeiras: que a indústria pare de vender
unidades que sejam usadas para o garimpo ilegal e paralise as máquinas, quando
estiverem trabalhando com tal objetivo, ao serem localizadas nesse contexto.
De acordo com o relatório, as máquinas encontradas
começaram a ser vistas na Terra Yanomami a partir do segundo semestre do ano
passado. Quatro delas foram achadas em uma estrada clandestina. Perto do local,
vive um grupo de indígenas em isolamento voluntário. “Como se vê, o
garimpo ilegal está investindo na construção de rodovias dentro de florestas
intactas para levar as escavadeiras para o interior dos territórios
indígenas”, alerta a ONG.
“A introdução dessas máquinas ajuda a explicar a
expansão muito rápida e muito violenta dessa atividade [garimpo ilegal] na
Amazônia”, disse o diretor de programas do Greenpeace Brasil, Leandro
Ramos, à Agência Brasil.
A reportagem entrou em contato com a Hyundai, mas a
empresa não deu retorno até a publicação desta matéria.