Corte na oferta pelos principais produtores de petróleo
eleva preço do barril e coloca mais pressão sobre a política de preços da
Petrobras
Maior produtora de petróleo brasileira, a Petrobras
deveria ser a principal beneficiada da disparada no preço do barril no mercado
externo nos últimos dias. Ontem (3/4), a cotação da matéria-prima subiu mais de
6%, após a notícia de que a Opep+ (grupo que reúne os maiores exploradores de
petróleo do mundo) reduziria a oferta do produto.
O efeito imediato foi positivo: as ações da Petrobras
subiram 4% na sessão de ontem da Bolsa de Valores, com os investidores
vislumbrando receitas maiores – afinal, se o petróleo sobe no mercado externo,
a Petrobras, como toda exportadora, tende a faturar mais.
Mas a lógica não é tão exata, no caso da petroleira
brasileira. O encarecimento do barril no mercado externo deve ter impacto sobre
os preços dos combustíveis no mercado doméstico. Isso porque, embora a
Petrobras exporte petróleo cru para outros países, o Brasil é um importador de
gasolina, diesel, querosene e outros combustíveis. Esses produtos têm o preço
baseado no valor do barril de petróleo.
Quem estabelece a correlação entre a cotação externa e os
custos internos é a política de paridade de preços da Petrobras (PPI). Uma das
grandes promessas do presidente Lula, durante a campanha de eleição
presidencial, foi mudar tal política para segurar os preços nos postos de
combustíveis. Passados três meses da posse do chefe do executivo, isso ainda
não aconteceu, mas se os preços subirem, Lula pode pressionar para a mudança
ser colocada em prática o mais rápido possível.
“Sabemos que o governo vai interferir na empresa em algum
momento, para que não haja repasse de preços ao consumidor. Por isso, o impacto
inicial, que parece positivo, como mostra a alta das ações da Petrobras, pode
não ter sustentação no longo prazo”, avalia Danielle Lopes, sócia e analista de
ações da Nord Research.
A possível interferência do governo na política de preços
da Petrobras preocupa os investidores da empresa (sejam eles grandes gestores
institucionais ou trabalhadores brasileiros que aplicaram suas parcas reservas
financeiras nas ações da petroleira).
Na última vez em que o governo decidiu obrigar a
Petrobras a importar e vender combustíveis por um preço maior do que o
praticado no exterior, tal política custou mais de R$ 100 bilhões para o caixa
da empresa. São recursos que deixaram de ser distribuídos aos minoritários, mas
também ao próprio Tesouro, uma vez que o governo é acionista majoritário da
Petrobras.
Fritura
O tema deve elevar a aparente fritura do presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates. O ex-senador estaria sendo preterido por Lula e
pela ala do PT que defende o controle de preços dos combustíveis para controle
da inflação. O presidente da Petrobras estaria recebendo “um gelo” do líder
petista, como reportou a colunista do jornal O Globo, Malu Gaspar.
Na avaliação do Presidente da República, Prates fez pouco
nos primeiros meses de governo para mudar o PPI, na Petrobras. Já Prates dizia
que só poderia fazer tal mudança quando a nova diretoria da empresa tomasse
posse, o que aconteceu efetivamente na semana passada.
Diante da fritura de Prates e do caminho aberto para a
mudança do PPI, parece ser uma questão de tempo até o governo voltar a
interferir na Petrobras.
“A Petrobras é um caso atípico no setor. O aumento
substancial no dólar e no preço do petróleo pode ser ruim para a empresa, por
pressão política”, lamenta o analista de mercado Felipe Pontes.