Segundo Marília Alencar, representantes do STF, do Senado,
da PMDF, bem como outros órgãos de segurança, foram avisados por WhatsApp
Em depoimento à Polícia Federal, Marília Ferreira Alencar,
ex-subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito
Federal (SSP/DF), disse que o Supremo Tribunal Federal (STF), o Senado, a
Polícia Militar (PMDF), bem como outros órgãos de segurança, sabiam da
movimentação de bolsonaristas antes dos atos terroristas de 8 de janeiro.
Segundo Marília, representantes dos órgãos de segurança
que participavam de um grupo de WhatsApp denominado “Perímetros de segurança”
foram avisados em 6 de janeiro sobre a agitação de grupos extremistas na
capital federal.
“Foram informados,
nesse período, sobre a chegada de ônibus vindos de várias localidades, com
registro das placas, quantidade de pessoas e locais em que os ônibus estavam
estacionados no Quartel General do Exército”, declarou Marília, no depoimento.
A ex-subsecretária, que disse ter sido convidada por
Anderson Torres para assumir o cargo, acrescentou que a SSP tinha conhecimento
das manifestações desde 5 de janeiro. No dia seguinte, ainda segundo Marília,
um relatório de inteligência reuniu informações sobre “possíveis invasões de
ocupação de prédio público, bloqueio de refinaria e distribuidoras de
combustíveis e possivelmente uma greve geral no dia 9 de janeiro”.
De acordo com o depoimento, em 7 de janeiro, um sábado,
os bolsonaristas foram monitorados pela pasta, e toda informação colhida foi
repassada a outros órgãos por meio do grupo do WhatsApp.
“Foi ressaltado nas frações de inteligência ânimos
exaltados de alguns acampados no Quartel-General do Exército, inclusive com
manifestação de intenções de confronto com as forças de segurança”, apontou
Marília.
“Foram observadas falas de incitação para prática de
ações adversas, como ocupações de prédios públicos, todavia sem uma coordenação
efetiva. Na noite de 7 de janeiro, porém, os informes recebidos e
compartilhados indicavam um clima tranquilo no acampamento e ainda não havia
definição sobre a descida dos manifestantes para a Esplanada dos Ministérios”,
explicou.
No mesmo dia, Marília contou à Polícia que entrou em
contato com o “núcleo de inteligência do STF para iniciar o canal de troca de
informações, comunicar que a SI [Secretaria de Inteligência] estava
acompanhando toda a movimentação e se colocar à disposição daquela agência”.
Ela também teria comunicado a Polícia Federal e a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin), mas não informou se recebeu retorno dos órgãos.
A ex-subsecretária de Inteligência declarou que na manhã
de 8 de janeiro foi compartilhado, “por várias agências, que os manifestantes
intencionavam se reunir às 13hs para se deslocar às 14hs. No entanto,
anteciparam o deslocamento e, como consequência, a Secretaria de Inteligência
informou todos os órgãos envolvidos no evento”.
Procurado, o STF informou que em “6 de janeiro houve uma
reunião entre as forças de segurança para combinar como seria o esquema de
segurança para o domingo, 8 de janeiro”. “Todos estavam cientes dos atos do
domingo. E na reunião houve uma divisão de responsabilidades. E a
responsabilidade da PMDF era impedir que os manifestantes entrassem na
Esplanada”, afirmou.
8 de janeiro
As primeiras mensagens no grupo de WhatsApp relatavam que
a descida dos bolsonaristas ocorria de forma “ordeira”. No entanto, “a partir
das 14h, começamos a receber informes no grupo ‘perímetros’ de manifestantes
portando objetos que indicavam intenções de praticar atos violentos, tais como
paus, estilingues mochila com pedras, etc.”, declarou Marília.
De acordo com a mulher, todos os membros do grupo foram
avisados sobre o que estaria acontecendo. A Polícia Militar e a Polícia Civil
(PCDF), segundo ela, “agiram em alguns casos para identificar e conter
possíveis manifestantes com intenções criminosas”. Todas as informações,
conforme relatou a ex-subsecretária , foram repassadas à Polícia Federal (PF) e
à PCDF pela secretaria.
Procurada, a PF informou que o diretor-geral, Andrei
Rodrigues, encaminhou, em 7 de janeiro, ofício ao ministro da Justiça, Flávio
Dino, informando sobre a movimentação de bolsonaristas que chegaram à capital.
Anderson Torres
Durante o depoimento, a ex-subsecretária de Inteligência
disse que Anderson Torres e o ex-comandante da PM faziam parte do grupo, mas
não interagiam.
Segundo ela, como Torres estava viajando, não solicitou
informações sobre as manifestações. Mencionou que “soube que o ex-ministro da
Justiça ligou para Fernando Oliveira”, mas não explicou qual teria sido a
conversa.