Asneira, erro e surpresa divergente
foram as grandes atrações desta semana, no programa que só acaba quando
termina. Quem quer bacalhau?
Fonte: Metrópoles- Por Mario Sabino
Ao assumir a pasta da Previdência, na terça-feira, Carlos
Lupi, atacou a reforma previdenciária e disse que era preciso revê-la. “A
Previdência não é deficitária. Vou provar com números, dados e informações”,
afirmou ele, todo pimpão.
A “prova” seria que os malvadões liberais haviam colocado
na conta previdenciária benefícios assistenciais, “para dizer que ela é
deficitária” e, desse modo, “levar à população à mentira”. A repórter Bianca
Alvarenga, do Metrópoles, ouviu economistas respeitados, que mostraram que
Carlos Lupi estava errado, havia feito uma “confusão contábil” e dado sequência
a uma lenda urbana difundida pela esquerda. Foram elegantes. Eu classificaria
como lenda agrícola divulgada por asnos.
Depois de Carlos Lupi ter asneirado, a Bolsa caiu, o
dólar subiu, e lá foi o ministro da Casa Civil, Rui Costa, correr para
assegurar que não existe “nenhuma proposta” de revisão da Previdência. Quanto a
Carlos Lupi, ele tentou retratar-se das suas certezas tão irremovíveis quanto
um burro empacado, sem convencer o indistinto público.
Para completar o dia glorioso, Fernando Haddad, ministro
da Fazenda (que não é o programa da Rede Record), em entrevista a um blog
petista, confundiu a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a autarquia
encarregada de fiscalizar e normatizar o mercado financeiro, com o Conselho
Monetário Nacional (CMN), órgão responsável pela formulação da política
monetária e de crédito.
Disse o ministro da Fazenda, com aquela segurança dos
sábios que lhe é característica:
“A CVM vai voltar a ser o que sempre foi: Planejamento,
Fazenda e Banco Central. Esse modelo vai voltar, então teremos no assentou eu,
Simone Tebet e Roberto Campos. Essa vai ser a CVM que define tudo: a política
de crédito, meta de inflação, tudo o que seu estatuto prevê. O que tem ali é um
secretário-executivo que organiza as reuniões, mas quem comanda a CVM são esses
três membros, que definem a política monetária e creditícias do país.”
Atire a primeira pedra quem nunca cometeu lapsos numa
entrevista, mas Fernando Haddad escandiu CVM, no lugar de CMN, três vezes antes
de o galo cantar. O que faz supor que o lapso pode não ter sido lapso, mas erro
bem errado mesmo, assim como a “confusão contábil” do colega Carlos Lupi.
Talvez por isso o ministro da Fazenda tenha ficado nervoso, a ponto de, dois
dias depois, dar um rabo de arraia num jornalista que perguntou a ele sobre a
possível criação de uma moeda única para o Mercosul: “Que moeda única? Não
existe moeda única, não existe essa proposta. Vai se informar primeiro”. Ué,
mas ele não havia conversado sobre o assunto com o embaixador da Argentina? Eu,
hein.
Por fim, na sua posse como ministra do Planejamento e
Orçamento, Simone Tebet afirmou que o convite de Lula (feito por bilhetinho,
não esqueçamos) a surpreendeu.
Simone Tebet disse o seguinte, suspirando pela perda do
Bolsa Família e com aquela meia sinceridade de quem não se deu conta
inteiramente da enrascada em que se meteu:
“Fiquei surpresa, porque fui parar justamente na pauta
com a qual tenho alguma divergência, sendo que tenho total sinergia na pauta
social e de costumes. Estou ao lado do time da economia, que vai fazer a
diferença, fazer com que este governo dê certo, apresentando propostas
concretas, para não faltar orçamento para as políticas.”
Ela também afirmou ter avisado Lula sobre a sua
divergência na área econômica:
“Ele simplesmente me ignorou como quem diz ‘é isso que eu
quero’.”
A “alguma divergência” de Simone Tebet, portanto, teria
vindo para somar, não para dividir. Não entendeu? Nem eu. Vamos deixar assim, que
é melhor: a mistura de quem prega a responsabilidade fiscal com quem acha que
ela é uma “estupidez” veio para confundir, não para explicar.
É isso aí, amigos, amigas e amigues. No balanço geral, o
governo Lula está mais para o programa de calouros do Chacrinha, com os
economistas tucanos que apoiaram o petista de jurados — e, como é próprio da
democracia, graças a Deus, o programa só acaba quando termina. Quem quer
bacalhau?