Omissão e inépcia do poder público explicam tragédias como
a de São Sebastião, no litoral paulista. Outras virão
Sai barato para o poder público instalar sirenes que soam
poucas horas antes de vendavais, socorrer depois os desabrigados e enterrar os
mortos. Sai barato prometer que tomará providências para que tragédias como a
de São Sebastião não mais se repitam.
Quando elas se repetem sob a mesma administração,
prefeitos e governadores alegam que faltou dinheiro e jogam a culpa no governo
federal. E caso se repitam em novas administrações, essas culpam as anteriores,
e é vida que segue, cada vez pior.
Não há notícias sobre a morte de afortunados. Muitos,
ilhados em suas casas, conseguiram ser resgatados por helicópteros e outros
meios fora do alcance da maioria. O número de mortos deverá ultrapassar a casa
dos 50, e há milhares de desabrigados.
Em alguns locais do litoral paulista, caíram em poucas
horas mais de 600 mm. Dito de outra maneira: mais de 600 litros por metro
quadrado, acima da média esperada para todo o mês de fevereiro. Culpa de São
Pedro que abriu as comportas do céu?
Foi um evento extremo, concordo. Antigamente, só ocorriam
de séculos em séculos, ou a intervalos maiores; amiudaram-se em consequência
das mudanças do clima provocadas pelo aquecimento da atmosfera. Mas isso também
era previsível.
Estima-se que 5% dos brasileiros moram em áreas sujeitas
a inundações e deslizamentos de terras. Estima-se, porque o país não dispõe de
dados confiáveis a respeito. E por não dispor, entra governo, sai governo e
falta plano que informe sobre o que fazer.
Foi bonito ver três políticos de partidos adversários –
Lula (PT), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito de São
Sebastião, do PSDB -, somarem esforços no socorro às vítimas de mais uma
tragédia anunciada. Foi bonito. Não basta, porém.
Por inépcia e omissão das autoridades até aqui, a
natureza agredida devolveu e continuará a devolver as agressões que recebe.
Metrópoles
Por Ricardo Noblat